Setúbal e os campeões do futuro

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Análise de João Bastos sobre Europeu de Juniores de Águas Abertas Setubal 2022.

Pelo segundo fim-de-semana consecutivo o Parque Urbano de Albarquel foi o epicentro da elite das águas abertas.

Depois de acolher a primeira etapa da Taça do Mundo da FINA, Setúbal foi palco dos Europeus de Juniores de Águas Abertas, uma edição acompanhada com expetativa pelos portugueses que assistiam pela primeira vez a uma sua nadadora ir em busca de renovar o título.

A tão aguardada prova dos 10 km femininos ficou reservada para o último dia. Por isso, comecemos por ordem cronológica:

Banho Turco nos 5km

Apesar da ausência de seleções de primeira linha europeia, como a Grã-Bretanha, Países Baixos ou Dinamarca, estavam presentes as potências Itália, Alemanha, Hungria e França. Por isso, a surpresa protagonizada pela equipa turca na prova dos 5 km, tanto masculina como feminina, ganhou ainda maior proporção.

Com a limitação de apresentar à partida três nadadores por distância e sexo, os três jovens turcos dos 5 km vieram desde cedo para a liderança da prova não dando hipóteses à concorrência.

No final concretizaram algo inédito de ocupar inteiramente o pódio. Na posição de ouro ficou Emir Albayrak, na posição de prata Tuncer Erturk e no bronze Kadem Erdagli.

Alexandre Morari foi o representante luso e terminou na 17.ª posição.

Na prova feminina as nadadoras turcas não estiveram muito pior, mas encontraram uma alemã, de nome Julia Ackermann, intransponível.

O ouro foi para a germânica, com o segundo lugar a ser conquistado por Sevim Supurgeci e o bronze a ir para Talya Ergodan (com Tuna Erdogan, a terceira turca, a chegar na 4ª posição).

Marta Aguilar chegou no 18º lugar.

Voltando aos turcos, importa relembrar que nos últimos europeus de juniores em piscina, decorridos em Roma, foram alcançadas 15 medalhas, das quais 7 de ouro, sendo a Turquia a segunda melhor nação no medalheiro, mostrando que o desempenho obtido em Setúbal não foi episódico, antevendo-se que nos anos vindouros assistiremos à afirmação de uma brilhante geração turca que agora desponta.

Dobradinha gaulesa

Se nos 5 km o destaque coletivo foi a Turquia, nos 7,5 km assistiu-se ao domínio de uma nação mais habituada à glória na natação, a França.

Na prova masculina havia um claro favorito, o já campeão europeu de juniores dos 7,5 km do ano passado, Sacha Velly. O jovem francês já tinha participado na etapa da Taça do Mundo de Abu Dhabi que fechou o ano 2021 e conseguiu um brilhante 6º lugar.

Como principais oponentes perfilavam-se o alemão Linus Scwedler, vice-campeão europeu dos 7,5 km de 2021 e Hunor Kovacs-Seres, campeão europeu dos 5 km no ano passado.

Velly não foi de veleidades e a cerca de duas voltas do fim produziu uma aceleração que o deixou isolado na frente.

Terminou com quase dois minutos de avanço sobre o segundo classificado, o italiano Vincenzo Caso, que se superiorizou ao alemão Linus Schwedler.

Os portugueses em ação foram Bruno Loureiro (27º) e Ricardo Santos (32º).

Curiosamente, o pódio feminino foi idêntico em termos das nações que ocuparam, ou seja, com uma francesa no primeiro lugar, uma italiana no segundo lugar e uma alemã no terceiro.

E curiosamente (ou não) a estratégia da vencedora Clemence Coccordano, foi tirada a fotocópia da receita seguida por Sasha Velly.

Coccordano só não conseguiu vantagem semelhante à do seu compatriota, mas também não precisou. 1 minuto e 15 segundos foi a margem da vantagem sobre Federica Senatore que chegou 19 segundos à frente de Lara Braun.

Daniela Lopes foi a 24.ª classificada.

Novo pódio para Mafalda

Na prova dos 10 km alinhavam à partida os dois campeões em título, o húngaro David Betlehem e a portuguesa Mafalda Rosa.

Betlehem já tinha tido um ensaio geral na semana passada bastante bem-sucedido com o 7º lugar na Taça do Mundo e, apesar da presença de alguns nomes com currículo como Krzysztof Chmielewski (finalista olímpico dos 200 mariposa) ou Pasquale Giordano (bronze nos 7,5 km em 2021), era o húngaro que partia com a maior dose de favoritismo.

E depois de uma primeira fase de seleção dos 7 nadadores que iriam discutir as posições de pódio, Betlehem impôs o seu ritmo e não teve concorrência à altura.

Revalidou o título com 1 hora, 44 minutos e 15 segundos, sendo secundado no pódio pelos italianos Pasquale Giordano e Giuseppe Ilario

Portugal alinhou com dois representantes. Gustavo Marques classificou-se no 13º lugar e Martim Carvalho no 20º.

No lado feminino o favoritismo, claro está, era da portuguesa Mafalda Rosa, mas eram várias as adversárias sinalizadas: a medalhada de bronze dos 10 km do ano passado, Madelon Catteau, a campeã dos 7,5 km de 2021, Bettina Fabian, a vice-campeã dessa mesma prova, Mira Szimczak, e ainda a medalhada de bronze, Klaudia Tarasiewicz.

A prova foi mais tática do que todas as outras disputadas em Setúbal, com um pelotão de 13 nadadoras na frente durante grande parte do percurso, onde seguiam todas as favoritas.

À entrada da última volta foi a francesa Catteau que tomou a iniciativa e encetou um ataque logo a seguir ao último abastecimento, que apanhou algumas nadadoras de surpresa.

A perseguição foi movida por Mafalda Rosa e com ela seguiram Szimcsak e a italiana Alessia Ossoli, mas Catteau não mais se deixou apanhar e assegurou o título com 1 hora, 55 minutos e 7 segundos.

A portuguesa ainda foi batida ao sprint por Mira Szimcsak que veio toda a última volta nos pés de Mafalda que, desta feita, ficou na posição de bronze, voltando a subir ao pódio de um Europeu de Juniores.

Hungria e Turquia vencem nas estafetas

Para o último dia estavam reservadas as estafetas 4x1250 metros mistos, primeiro para o escalão sub-19 e depois para o escalão sub-16.

Com a ausência da França, na estafeta dos mais velhos o favoritismo repartia-se entre Hungria, Itália e Alemanha, mas, claro, com Betlehem na equipa, a tarefa dos magiares ficava bastante facilitada.

A Hungria abriu com Mira Szimcsak (vice-campeã dos 10 km), seguiu-se Bettina Fabian (6ª classificada nos 10 km), Zalan Sarkany (5º classificado nos 10 km) e fechou com David Betlehem (campeão dos 10 km). Só no último percurso os húngaros chegaram à liderança da prova, mas ainda deu para vencer com uns confortáveis 1:46 de vantagem sobre a Alemanha que alinhou com Leonie Martens, Lara Seifert, Moritz Bockes e Linus Scwedler.

A Itália ficou na posição de bronze, tendo liderado até à entrada na última volta. Nadaram Giuseppe Ilario, Pasquale Giordano, Alessia Ossoli e Iris Menchini.

Portugal nadou com Daniela Lopes, Martim Carvalho, Mafalda Rosa e Gustavo Marques classificando-se no 7º lugar.

Na estafeta dos mais novos, se nas provas individuais a performance dos turcos foi uma surpresa, na prova de estafetas seria escandaloso se a Turquia não vencesse.

E assim aconteceu, sem grande questão. Com uma equipa composta por Talya Erdogan (bronze nos 5 km), Sevim Supur geci (prata nos 5 km), Tuncer Erturk (prata nos 5 km) e Emir Albayrak (ouro nos 5 km), a Turquia venceu com uma margem que permitiu mesmo a Albayrak desacelerar ao ponto de fazer dos piores parciais da prova. Daí que os 20 segundos de diferença para a equipa segunda classificada não tenham traduzido verdadeiramente a supremacia dos turcos.

No segundo lugar chegou a Alemanha que abriu com a campeã dos 5 km, Julia Ackermann, seguiu-se Hannah Gatjen, Finn-Constantin Kleinheinz e Arne Schubert.

Na posição de bronze ficou a Itália – que não conseguiu nenhum título nestes Europeus, mas foi a nação com maior número de medalhas – com Guglielmo Lombardo, Tiziano Tripodi, Eva Lenzi e Sofia Dandrea.

Na classificação por pontos, levou a melhor a Itália (237), seguindo-se a Alemanha (186) e a Turquia (185). Portugal ficou no 10º lugar com 37 pontos.