Análise - Greg e Marcela triunfantes em Setúbal

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Análise da Taça do Mundo de Águas Abertas Setúbal 2022,  por João Bastos

Pela 11.ª vez (às quais se somam os três apuramentos olímpicos), Setúbal acolheu uma etapa da Taça do Mundo de Águas Abertas, que pela primeira vez no seu historial abriu o circuito e  serviu ainda de ensaio geral para os Mundiais de Budapeste.

Em virtude dessa circunstância foram poucas as ausências entre os melhores nadadores de águas abertas do mundo. No setor feminino estiveram presentes 4 das 5 primeiras classificadas nos últimos Jogos Olímpicos e no setor masculino estiveram presentes dois dos três medalhados olímpicos.

Portugal fez-se representar na prova individual pelos olímpicos Angélica André e Tiago Campos e ainda pelos jovens Diogo Cardoso e Mariana Mendes.

Na prova masculina os favoritos Gregorio Paltrinieri e Kristof Rasovszky vieram para a liderança logo desde o início. Rasovszky já tem curriculum em Setúbal tendo vencido a prova em 2018 e 2019. Já Paltrinieri – por incrível que pareça – vinha a Setúbal ainda à procura da sua primeira vitória individual em etapas da Taça do Mundo (subiu ao lugar mais alto do pódio em Abu Dhabi na última etapa do ano passado, mas na estafeta mista 4x1500m).

Com o húngaro e o italiano seguiu desde o início outro italiano, mais familiar entre o público que segue a natação pura, Domenico Acerenza.

De resto, a squadra azzurra das águas abertas exibiu no setor masculino o seu poderio com 7 nadadores sempre posicionados no top-10. Para além de Paltrinieri e Acerenza, a Itália trouxe ainda a Setúbal os irmãos Sanzullo, Simone Ruffini (também bi-campeão em Setúbal nos anos 2016 e 2017), Andrea Manzi, Matteo Furlan, Dario Verani e Marcello Guidi. Sem dúvida a melhor seleção do mundo na atualidade nas águas abertas!

Rasovszky lutou em solitário contra os italianos e escolheu a sua estratégia favorita, com mudanças de ritmo numa prova que apresentou condições difíceis com muito vento e correntes que foram mudando durante a prova.

O húngaro nunca conseguiu descolar Paltrinieri e Acerenza e, quando podia ser mais forte no sprint final, já não encontrou forças para contrariar a cavalgada de Greg para a vitória.

Acerenza também superou o húngaro para fazer a dobradinha para a Itália. Seis segundos depois do vencedor chegou o vice-campeão olímpico Kristof Rasovszky para a posição de bronze.

Tiago Campos chegou no 21º lugar com o mesmo tempo do medalhado de bronze europeu nos 5 km em 2018, Logan Fontaine.

Diogo Cardoso foi o 34º classificado na sua segunda participação em etapas da Taça do Mundo.

Na prova feminina o grande atrativo era o confronto entre as duas melhores nadadoras de águas abertas de sempre: campeã olímpica de Tóquio, Ana Marcela Cunha ia encontrar a campeã olímpica do Rio, Sharon van Rowendaal.

O currículo das duas é impressionante. Para além de campeã olímpica em título, a brasileira Ana Marcela é penta-campeã mundial e vinha a Setúbal à procura da sua 27ª vitória em etapas da Taça do Mundo.

Já a neerlandesa van Rowendaal tem outra medalha olímpica (prata em Tóquio) e é a bi-campeã europeia em título andando-lhe a escapar um título mundial.

Apesar das credenciais, não se perspetivava um passeio no parque para as duas favoritas tendo em conta a presença da vencedora da última etapa de 2021, Leonie Beck e da 4ª classificada em Tóquio e vencedora da qualificação olímpica do ano passado, Anna Olasz.

À semelhança do setor masculino, também nas senhoras as duas favoritas preferem provas duras e, sobretudo Sharon, vieram para a frente logo de início imprimindo um ritmo que detonou o pelotão logo na primeira volta.

A seleção foi feita com cerca de 12 nadadoras onde seguiu a portuguesa Angélica André, mas mesmo esse grupo restrito foi sempre muito esticado, resultado do ritmo que foram imprimindo à vez ora Sharon ora Ana Marcela.

Junto com as duas seguiu sempre a italiana Ginevra Taddeucci com a outra italiana, Giulia Gabbrielleschi, por perto.

A prova foi-se mantendo nestas bases até que à entrada da última volta de forma algo surpreendente ainda surgiu outra nadadora com capacidade de acelerar ainda mais o ritmo, a alemã Leonie Beck.

Beck liderou praticamente toda a última volta até se ter desorientado com a corrente necessitando de parar antes da viragem na última boia. Foi o momento em que Ana Marcela aproveitou para desferir o ataque final que se revelou eficaz para a levar para a vitória.

Ana Marcela Cunha garantiu assim o seu 4º triunfo da carreira em Setúbal, onde tudo começou em termos internacionais para a brasileira, lembrando que foi nas águas do Sado que conquistou a sua primeira vitória internacional, corria o ano 2008 e contava Ana Marcela com apenas 16 anos.

A história da prova não se faz apenas da vencedora e a luta pelo 2º lugar proporcionou a chegada mais apertada (provavelmente de qualquer prova internacional de águas abertas) com 6 nadadoras a tocarem na placa ao mesmo tempo.

Ao fim de mais de meia hora de análise do photo finnish foi Sharon van Rowendaal a subir ao pódio na posição de prata, reeditando-se os dois primeiros lugares dos últimos Jogos Olímpicos.

Para a posição de bronze subiu a menos provável das alemãs, Jeannette Spiwoks.

Seguiram-se no mesmo décimo de segundo Taddeucci, Beck e Gabbrielleschi, com Lea Boy um décimo de segundo a seguir.

Angélica André classificou-se na 12ª posição a apenas 1 minuto e 40 segundos de Ana Marcela Cunha.

Mariana Mendes foi a 22ª classificada na sua segunda experiência em etapas da Taça do Mundo (fora 21ª em Setúbal 2019).

No domingo disputou-se a estafeta mista 4x1500 metros, uma novidade na última etapa da Taça do Mundo do ano passado em Abu Dhabi e que será uma aposta a reforçar nas próximas provas da FINA, aventando-se mesmo a hipótese de poder vir a ser distância olímpica.

Apenas cinco estafetas em compita, sendo duas italianas, onde os transalpinos iriam evidenciar mais uma vez a sua supremacia, mas a encontrarem na Hungria liderada por Rasovszky e Olasz e secundados por Betlehem e Rohacs forte oposição.

Brasil e Portugal completavam o alinhamento.

Com a Itália a meter as duas melhores mulheres numa equipa e os dois melhores homens na outra formaram quartetos equilibrados que disputaram até ao final a vitória.

Venceu a equipa composta por Giulia Gabbrielleschi, Ginevra Taddeucci, Marcello Guidi e Mario Sanzullo superiorizando-se à equipa composta por Martina de Memme, Barbara Pozzobon, Domenico Acerenza e Gregorio Paltrinieri.

Os húngaros chegaram na posição de bronze e Portugal superiorizou-se ao Brasil na luta pelo 4º lugar.

A equipa lusa foi composta por Angélica André, Mafalda Rosa, Diogo Cardoso e Tiago Campos. Mafalda Rosa, que nada na próxima semana os Europeus de Juniores, esteve em plano de evidência ao colocar a equipa portuguesa no segundo lugar no final do seu percurso que foi mais rápido do que o de Taddeucci ou Olasz.

O Brasil não fez alinhar Ana Marcela Cunha, nadando com Cibelle Jungblut, Carol Hertel, Luiz Loureiro e Bruce Almeida.

O circuito da Taça do Mundo segue agora para Paris, mas Setúbal continua a ser o epicentro das águas abertas com a realização no próximo fim-de-semana do Europeu de Juniores.

Para acompanhar a partir de 6ª feira na Sporttv ou nos canais da LEN.