“O atleta português tem as mesmas características que o atleta espanhol, mas falta cultura desportiva.”
Venceu tudo o que podia logo no seu ano de estreia em Portugal como treinador da equipa do Fluvial Portuense, com destaque para a Supertaça Carlos Meinêdo, a Taça de Portugal e o tricampeonato. Alfonso Merino, em entrevista ao site da FPN, faz um balanço da sua experiência à frente do polo aquático do Fluvial, define objetivos e analisa o atual estado do polo aquático português.
Que objetivos tinha quando aceitou o desafio para treinar em Portugal?
Os objetivos que assumi quando cheguei ao Fluvial foram: ganhar todas as competições com as equipas sénior; começar a construir um estilo de jogo próprio, como eu entendo o polo aquático; e começar a melhorar e fazer evoluir o trabalho base nos escalões de formação do clube.
O que esperava encontrar no Fluvial e no polo aquático português?
Não vim com nenhum preconceito ou ideia feita em relação ao polo aquático português. Prefiro primeiro ver, analisar, e depois ter uma ideia certa para poder falar e atuar com rigor.
A realidade correspondeu às tuas expectativas?
As minhas expectativas eram ganhar. Sou uma pessoa competitiva e gosto de ganhar, por isso, sempre assumo o objetivo e expectativa de ganhar. Por tanto, as expectativas desta primeira época foram cumpridas, mas ainda temos muito para trabalhar e melhorar.
Que impacto teve a participação da equipa masculina do Fluvial na fase de qualificação da Liga dos Campeões, em Banja Luka, logo em setembro?
Entendo que fizemos um resultado histórico ao ganhar um jogo na Champions, para uma equipa portuguesa. É muito bom para o polo aquático português. Para o nosso clube foi muito bom e deu-nos uma boa base de inicio de trabalho para alcançar os nossos objetivos.
A presença do Fluvial no panorama internacional é para continuar?
Ainda não decidimos a participação na Champions League. De todas as formas, vamos a continuar a estar presentes a nível internacional organizando torneios e fazendo estágios. O clube Fluvial Portuense cada dia é mais conhecido fora de Portugal e temos muitos bons contactos para ainda ser mais internacionais.
Venceu tudo o que podia logo no seu ano de estreia com a equipa do Fluvial: a Supertaça Carlos Meinêdo no início da época; em abril conquistaram a Taça de Portugal; em junho conquistaram o tricampeonato; e pelo meio ainda foram campeões da 2.ª divisão masculina. O que fica a faltar? Que objetivos há para a próxima época?
Falta muito. Em termos de títulos ganhamos tudo, temos que continuar, mas o mais importante é evoluir em nosso estilo de jogo e conseguir ter carácter e estilo próprio.
E sobre o Polo Aquático português, qual a sua opinião em relação às outras realidades com as quais já contactou, nomeadamente em Espanha?
O polo aquático português tem jogadores com uma grande qualidade. O atleta português tem as mesmas características que o atleta espanhol, mas falta cultura desportiva.
Em relação o polo aquático espanhol temos que perceber que em Espanha há uma maior tradição e os planos de desenvolvimento do polo aquático estão há já muitos anos em aplicação. Por tanto, não podemos comparar as duas realidades.
O que falta a Portugal para atingir o nível em Espanha? Como e onde é possível melhorar?
Há pessoas neste país que, após observarem dois jogos em toda a época, acham que podem escrever e fazer análises sobre a situação e evolução do polo aquático português. Ou, sem acompanhar o polo aquático feminino, se permitem ao luxo de escrever sem saber, e isto não é bom. Por tanto, o primeiro que temos que fazer é uma analise profundo da situação atual e identificar os problemas a nível da Federação, a nível das Associações Regionais e a nível dos clubes.
Temos que melhorar a nível da direção técnica, criar planos de desenvolvimento e promoção do polo aquático. Criar projetos e planos técnicos a médio e longe prazo, com os escalões de formação sub-14 e sub-16. Planos de formação de treinadores. Maior colaboração entre os clubes (eu fiz convites a todos para fazer treinos e quanto mais trabalhamos mais evoluímos). Formação de árbitros. Evolução de normativas.... há muito por fazer.
Para mim o primeiro passo seria criar uma área de waterpolo composta por árbitros, treinadores, diretores, diretores técnicos regionais, diretor técnico da federação e selecionadores. E, todos juntos, construirmos um grande futuro para o polo aquático português.
Eu sou otimista e acho que se pode conseguir passo a passo, porque Portugal pode.