Maria Beatriz Gonçalves esta de regresso às competições. A internacional portuguesa de natação artística integrou o dueto com Cheila Vieira que melhores resultados internacionais alcançou para a natação artística nacional, com destaque para o 4.º lugar no dueto técnico Europeu Belgrado 2024.
O seu regresso às competições acontece após a recuperação de uma lesão e de um longo período de intenso treino e competição. A atleta da Gesloures integra como suplente o dueto misto de Portugal com Daniel Ascenso e Filipa Faria que irá competir no Europeu da Madeira 2 a 5 de junho no Funchal, onde irão participar no Dueto Técnico Misto e Dueto Livre Misto.
Como está a decorrer este seu regresso aos treinos e às competições?
Maria Beatriz Gonçalves: Está a decorrer muito bem. Está a ser uma boa oportunidade. Depois da operação, estou a ser acompanhado pelo fisioterapeuta Daniel Moedas para estar recuperada e voltar a competir. Por isso, deram-me a oportunidade de ser suplente no dueto misto no Europeu. É muito bom poder ajudar a Filipa Faria e o Daniel Ascenso. E assim eu também poder regressar à competição.
É uma nova experiência o dueto misto…
Os treinos são complicados na mesma porque é uma nova adaptação. Estava muito habituada à Cheila [Vieira] e de repente com o Daniel [Ascenso] é diferente. Mas, sempre treinamos muito juntos com a Chilua [Pegado], por isso acaba por ajudar. A minha experiência com a Cheila também é um contributo para o dueto. É uma conexão muito interessante entre nós os três e estarmos a construir o dueto misto.
Qual é a diferença…
Eu estive muito anos com a Cheila a competir. Havia uma telepatia gigante… olhávamos uma para a outra e fazíamos. É um ritmo completamente diferente. O meu trabalho com a Cheila sempre foi a mil por cento. É diferente... conciliamos com trabalho, com estudos, mas treinávamos mais horas. É diferente também por ser um rapaz e uma rapariga porque já sabemos que os rapazes perdem um bocadinho a concentração [risos]. De resto, a dedicação e o empenho são iguais. Porque é assim na Gesloures e percebemos que em seleção é crucial termos uma dedicação 100%.
A tua ligação à artística vai continuar por muitos e muitos anos…
Espero que sim. Já faz parte da minha vida há muito tempo e não tenciono largar. Como atleta um dia irá acontecer, mas terei sempre uma conexão. Todos os atletas, principalmente ao nível em que cheguei, é impossível perdermos essa ligação.
Portugal irá receber o Europeu na Madeira como vê essa participação?
Um Europeu na Madeira e com a Taça COMEN, onde teremos um combinado. É muito bom haver esta participação de juvenis com as treinadoras da seleção a Rita Varandas e a Beatriz Gama. Algo que já não existia há muito tempo. Neste ano de transição, com a Cheila a sair, acaba por ficar um intervalo muito grande, um vazio muito grande, e a aposta tem de ser nas juvenis que começam a perceber que têm esta oportunidade na Taça COMEN e depois nos juniores e absolutos. Esta aposta da Federação nos juvenis é muito importante.
Os resultados internacionais da Beatriz e da Cheila nos últimos anos foram fantásticos - 4.º LUGAR para Cheila Vieira e Beatriz Gonçalves no dueto técnico Europeu Belgrado 2024; oitavo lugar na final no dueto técnico no Mundial Doha 2024; 5.º lugar a competição de dueto livre da Superfinal da Taça do Mundo Oviedo 2023; 11.º posição no dueto técnico no Mundial de Fukuoka 2023…
Há que dar continuidade a esses resultados…
Sim, completamente. Por vezes, nós próprias esquecemo-nos que estivemos a uma “unha negra” do apuramento olímpico e o 4.º lugar no Europeu é algo completamente inédito. Portugal esteve no top-5, quase na entrada do 3.º lugar e estivemos em duas finais mundiais e com isso uma afirmação de que eu e a Cheila, nós, Portugal, estamos no "top 10" Mundial. Há que perceber que fizemos tudo bem. Há que continuar a aposta, continuar a trabalhar, com as juvenis não esquecendo o absoluto. Ao olharmos para trás, recordarmos os resultados que alcançamos e perceber que é tudo um grande trabalho de muita gente, treinadoras e atletas.
E o futuro…
Agora, não basta termos aberto a porta. Agora quem vem a seguir tem de saber fazer aquilo que nós fizemos, ter esse espírito de sacrifício. A aposta que nós fizemos não foi feita só para nós, nós sabíamos isso, que era para o crescimento da modalidade, para quem viesse depois não baterem nas mesmas paredes. Ninguém pensou que nós entrássemos para a preparação do projeto olímpico, pela primeira vez, com a possibilidade de uma participação. Para as mais novas verem que é possível, um extra, e fazerem o que nós fizemos. Para nós seria muito gratificante sentir que fomos uma inspiração para as atletas que querem chegar onde chegamos e até ultrapassar os nossos resultados.
E o dueto Cheila e Beatriz, como será o futuro?
Eu estou a retomar a competição, agora que me foi dada esta oportunidade. Mas nós precisávamos mesmo de descansar. Foram muitos anos num regime muito, muito exigente. Esta pausa é muito necessária. Para mim por causa da lesão. Nada nos impede de podermos estar bem e voltar a competir. Há sempre uma oportunidade, nós nunca iremos nos desligar da modalidade. Continuamos a estar sempre juntas, e a treinar. Sabemos que somos capazes de mais, mas há outras coisas na vida importantes como a saúde mental. É muito importante para todos os atletas. Nós amamos a natação artística.