O jogador Pedro Sousa completou recentemente 100 internacionalizações pela seleção de Portugal.
O português, que atingiu frente a Grã-Bretanha na Men's Water Polo World Cup 2025, a sua 100 internacionalização, recorda-nos o início da sua carreira os clubes que representou, os seus treinadores, os momentos marcantes, assim como a sua visão sobre o polo aquático hoje e no futuro. O jogador do Vitória SC a soma no seu currículo, aos 33 anos, oito títulos de campeã de Portugal, seis Taças e sete Supertaça de Portugal.
Lançamos já a entrevista de Inês Nunes, no dia 27 de janeiro, e brevemente iremos publicar a de Ricardo Sousa, que recentemente também atingiram as 100 internacionalizações pela equipa de Portugal.
Nome - Pedro Ferreira Abreu Moura de Sousa
Idade – 33 anos
Clubes - 2001/2009 CPN (Clube Propaganda de Natação); 2009/2013 Sport Comércio e Salgueiros; 2013/2014 CDUP; 2014/2018 Clube Fluvial Portuense; e 2018 Vitória Sport Clube.
Títulos: 8 campeonatos 1.ª Divisão Nacional; 6 Taças de Portugal; 7 Supertaças
Formação (profissional, académica) - Licenciado em Ciências da Nutrição
1) 100 jogos pela seleção - que balanço faz da sua carreira? como se define como jogador?
Só posso estar orgulhoso de todo o percurso que estou a fazer. Desde os títulos ganhos a nível nacional, até à presença ao longo de 15 anos nos momentos mais marcantes da Seleção Nacional Sénior. Como me defino como jogador? Isso é uma pergunta que teria que ser feita aos meus treinadores e colegas de equipa, seguramente iríamos ter um grande e engraçado conjunto opiniões [risos]. Sou, claramente, um jogador mais ofensivo que defensivo, mas em jogos decisivos a minha cabeça tem de estar na defesa. Sou muito competitivo, sempre com garra e vontade de ganhar, de fazer mais e melhor. Sou o meu maior crítico!!! Confiança é uma característica que está sempre presente, não tenho medo de arriscar e falhar: Costumo dizer que são os erros que nos fazem crescer. Considero que já tenho uma leitura e visão de jogo que me permite adequar e antecipar aos meus adversários. Tento sempre perceber qual o meu papel em cada momento do jogo, e adaptar-me em prol do sucesso da equipa. Estas são características que fui moldando com a experiência e que tento passar aos mais novos, mesmo que por vezes de uma maneira mais acesa e emotiva. Em resumo, ofensivo, confiante, visão, garra, explosivo e experiente são as palavras que me podem definir.
2) Recorde-nos o seu início na modalidade e os destaques no seu percurso (clubes, épocas).
Comecei na época de 2001 no CPN, onde joguei até ao final da época de 2009. O CPN era um clube muito forte ao nível de formação, conquistei vários títulos nacionais e regionais de Infantis e Juvenis. Tive a sorte de ser treinado pelo Jorge Mota (Sueco), que para mim é uma referência como treinador nos escalões de formação. Ainda no CPN faço a minha estreia na 1.ª Divisão sénior na época de 2007/2008 com o treinador Nuno Lobo.
Na época de 2009/2010, no meu primeiro ano de júnior, vou jogar para o Sport Comércio e Salgueiros, na altura treinado pelo Fernando Leite. Esta mudança foi sem dúvida fundamental para a minha evolução como jogador. O Salgueiros na época era a melhor equipa nacional, disputava todas as finais. Tive a oportunidade de treinar e jogar com muitos jogadores de topo a nível nacional. Destacar os dois títulos regionais Júnior, um título nacional Júnior, um título nacional Sénior da 1.ª divisão, quatro Taças de Portugal e duas Supertaças.
Na época 2013/2014 vou jogar para o CDUP pois, infelizmente, o Salgueiros terminou com o polo aquático. Na altura decidi aceitar o convite do CDUP, claramente para tentar ajudar o clube a chegar novamente a títulos nacionais. Infelizmente, nessa época não atingimos os objetivos, destacando, apenas, uma chegada à meia final da taça de Portugal.
Na época seguinte (2014/2015), aceitei o convite do João Pedro Santos e do José Marques para ingressar na equipa do Fluvial. Na altura, o Fluvial procurava conquistar o seu 1.º título nacional. Senti que podia ser uma grande ajuda para atingir esse objetivo. Conseguimos, finalmente, chegar ao 1.º título de campeão nacional na época 2015/2016 já com o Nuno Lobo como treinador. Nas duas épocas seguintes com dois treinadores vindos de Espanha, o Juan e o Alfonso, conseguimos alcançar mais dois títulos nacionais. Destaco o campeonato ganho em 2016/2017 com o treinador Juan Abella porque só mesmo nós acreditávamos que era possível.
Na época 2018/2019, aceito o convite do Pedro Magalhães, na altura diretor do Polo Aquático do Vitória, para ingressar na equipa do Vitória Sport Clube, onde ainda permaneço. Tinham um projeto bastante ambicioso e do qual queria fazer parte. Na altura o Vitória tinha uma equipa jovem e com bons talentos, mas destaco, principalmente, a vontade enorme de crescer e aprender com aqueles que vieram de "fora". Logo na primeira época, para surpresa de todos, conseguimos atingir o primeiro campeonato nacional, ao comando do João Pedro Santos. Nas épocas seguintes, já com o Vítor Macedo, conseguimos chegar ao tetracampeonato sem dúvida um momento marcante. O tetracampeonato foi uma grande conquista não só dos jogadores, mas como de toda a direção. Tenho de destacar o grande ambiente que se vive e respira a volta do Vitória, principalmente nas finais dos campeonatos. Todos os jogadores se emocionam ao sentir o apoio da bancada, da massa associativa do Vitória, é indescritível. Como nós costumamos dizer, o Vitória é um clube diferente.
3) Qual o jogo que mais o marcou, que momento destaca (situação, jogada, adversários).
Qualquer campeonato ganho é um momento marcante, mas se tivesse que escolher um, sem dúvida, escolheria o primeiro título ganho pelo Vitoria Sport Clube. O ambiente vivido nas piscinas de Guimarães nessa final foi inesquecível. A bancada estava completamente cheia e os adeptos Vitorianos sempre a cantar e torcer por nós. Um jogo que irá ficar para sempre na minha memória foi o jogo contra a Sérvia, campeã olímpica nos Jogos do Mediterrâneo em 2018. A Sérvia era a campeã olímpica e viria a ganhar novamente o título nos Jogos de Tóquio. E nestes momentos que olho para trás e afirmo que todos os sacrifícios valeram a pena.
4) Como avalia o atual momento do Polo Aquático em Portugal?
Penso que Portugal está a caminhar, lentamente, no caminho certo. Fazendo uma retrospetiva era impensável ou quase impossível a seleção nacional estar a lutar por uma vaga no Europeu. No último apuramento ficamos de fora por apenas um golo. Sem dúvida que é notória uma evolução a nível técnico e tático dos jogadores. No entanto, é de lamentar que o número de atletas e clubes diminua a cada época. Se olharmos para 10/15 anos atrás, havia mais clubes, mais jogadores. Cada vez há menos clubes. É na formação que conseguimos avaliar a evolução de qualquer desporto e as nossas formações, infelizmente, também sofrem do mesmo mal. É fundamental trabalhar e aliciar as bases para mais tarde ter frutos, sem dúvida que é a direção que devemos seguir, captando mais jovens, trabalhando mais e melhor nos escalões da formação. Por outro lado, acho importante realçar os esforços dos clubes perante tantas adversidades. Dentro da nossa pequena realidade tentam sempre dar cada vez mais e melhores condições aos jogadores.
5) Que características fundamentais entende que um jogador de polo deve ter para chegar ao top?
Sem dúvida alguma as componentes técnicas são as principais. Para mim um jogador que tenha visão e consiga ler e perceber os momentos do jogo, vai-se destacar. Contudo, costumo dizer muitas vezes que se um atleta não tiver compromisso com ele e com a equipa, espírito de sacrifício, e a vontade de dia após dia ser melhor, nunca vai chegar ao topo.
6) Uma mensagem poderia enviar aos jovens que agora começam na modalidade?
Para qualquer jovem chegar ao topo tem de ter o sonho e a ilusão. O Compromisso e sacrifício tem que estar sempre presentes porque no final, seja nos momentos de vitória, onde tudo é recompensado, seja nas derrotas, o sentimento de dever cumprido faz tudo valer a pena. Trabalhar e treinar diariamente. Olhar para os melhores e dizer, um dia serei igual ou melhor, era o meu pensamento quando era jovem. Olhava para os melhores, aprendia com eles e tentava todos os dias chegar ao patamar deles, no final tinha que conseguir, pelo menos, ser como eles. No fundo, acreditar e ser humilde o suficiente para entender que todos os dias podemos melhorar, com treino e persistência. Para finalizar enfatizo que há tempo para tudo, hoje em dia isso é um dilema. Às vezes é necessário abdicar de alguns momentos familiares e sociais, e ter a capacidade de perceber que num futuro todo o esforço será recompensado.