Antevisão do Europeu Belgrado 2024

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Antevisão do Europeu Belgrado 2024

Por João Bastos

Belgrado é o ponto intermédio da época mais recheada de que há memória na natação internacional. De forma inédita, decorrerão na mesma temporada Mundiais (em Piscina Longa), Europeus (em Piscina Longa) e Jogos Olímpicos.

Outro facto inédito é a participação da seleção portuguesa em quatro disciplinas da natação: natação pura, águas abertas, natação artística e, em estreia absoluta, saltos para a água.

Apesar dessa múltipla participação, a comitiva portuguesa não é particularmente larga, o que se justifica com a maioria dos nadadores que já asseguraram presença em Paris. Serão 11 nadadores, dos quais 4 na natação pura, 4 na natação artística, 2 nas águas abertas e 1 nos saltos para a água.

Antes de perspetivarmos a competição – que já teve início na capital sérvia e decorrerá até ao próximo dia 23 de junho – façamos uma retrospetiva dos Europeus de Piscina Longa e das participações lusas nesta competição.

Histórico de participações

Esta é a competição internacional onde Portugal participa há mais tempo e tem, por isso, maior histórico (e também maior palmarés, considerando as competições absolutas).

O primeiro nadador português em ação em europeus de piscina longa foi Mário Simas que nadou três provas no Mónaco, em 1947, conseguindo logo a primeira final para a natação portuguesa, tendo ficado no 7.º lugar nos 100 costas.

Daí para cá, Portugal já participou em 27 edições dos campeonatos da Europa, mas não é preciso recuar muito para encontrar a melhor participação de sempre da seleção nacional. Ainda está bem fresca a participação lusa nos Europeus de Roma’22, aquela em que Portugal subiu mais vezes ao pódio, num total de três vezes no terceiro lugar. Diogo Ribeiro nos 50 mariposa, Gabriel Lopes nos 200 estilos e Angélica André nos 10 km foram medalhados nacionais na capital italiana.

No entanto, o português que mais alto subiu em Europeus de Piscina Longa continua a ser Alexandre Yokochi, o vice-campeão europeu de Sofia’85, na sua prova de 200 metros bruços.

Para além destes 4 nadadores, houve ainda mais um nadador a ser medalhado em Europeus de PL. Alexis Santos em Londres 2016 com o bronze nos 200E.

Para além das medalhas, importa destacar as 44 classificações portuguesas nos oito primeiros, englobando assim finalistas em piscina e nadadores de águas abertas que terminaram a prova nos oito primeiros lugares.

Desse grupo, destacam-se três nadadores com quatro finais ou classificações no top-8 – Alexis Santos, Tamila Holub e Angélica André.

Com três surge Nuno Laurentino (às quais junta mais duas de participação em estafetas) e José Couto.

Com duas finais na carreira há sete nadadores – Alexandre Yokochi, Sara Oliveira, Simão Morgado, Diogo Carvalho, Ana Catarina Monteiro, Diana Durães e Diogo Ribeiro.

Por fim, surgem 12 nadadores com uma final: Mário Simas, Vítor Fonseca, Ana Barros, Joana Arantes, a estafeta masculina de 4x100 livres e 4x200 livres de Berlim’02, Carlos Almeida, João Vital, José Paulo Lopes, Camila Rebelo, João Costa e Gabriel Lopes.

Confira o histórico de participações da seleção portuguesa em Campeonatos da Europa de Piscina Longa clicando aqui.

Recorde a participação portuguesa no Europeu de Roma, clicando aqui.

Antevisão dos Europeus de Belgrado

Esta é a derradeira hipótese de chegar a Paris para os nadadores da natação pura e, por isso, Portugal será representado maioritariamente (75%) por nadadores que têm andado perto dos mínimos, mas ainda não conseguiram carimbar o passaporte.

Percorremos alfabeticamente a seleção nacional de natação pura e olhamos para o que poderão ser as suas aspirações.

Ana Pinho Rodrigues – A nadadora da Escola Desportiva de Viana conseguiu a marca para estes europeus na prova de 50 metros bruços, a sua melhor prova, mas que, infelizmente, não é prova olímpica. Pelo que a sua aposta será na melhor classificação possível nesta prova.

Ana conta já com três participações em Europeus de Piscina Longa na sua carreira, com duas meias-finais alcançadas, precisamente na prova de 50 bruços. Foi 10.ª em Debrecen 2012 (31.98) e 11.ª em Roma 2022 (31.33).

Nadará ainda os 50 metros livres e os 100 metros bruços, ou seja, nadará em Belgrado as três provas onde é recordista nacional.

Camila Rebelo – Depois da brilhante estreia em Europeus de Piscina Longa em Roma 2022, onde foi 5.ª na final dos 200 metros costas, a nadadora do Louzan Natação volta a competir nesta competição, desta feita para um último teste antes da estreia olímpica.

Vai nadar apenas os 200 metros costas, uma prova onde esta época ainda não aproximou dos 2:09.84 que lhe valeram o mínimo para os Jogos Olímpicos, mas sem esquecer os 2:04.39 que fez no fecho da temporada de piscina curta. Se chegar aos Jogos a nadar o equivalente a essa marca, mas em piscina longa, será uma grande estreia!

Francisca Martins – Tem batido na trave várias vezes no que diz respeito ao apuramento olímpico. Nos 400 metros livres o tempo a bater de 4:07.90 e, só no último ano, a nadadora do FOCA já nadou três em 4:08, a última das quais no Meeting do Porto (4:08.80).

O acesso à final dos 400 metros livres é perfeitamente possível, na medida em que é a 7.ª melhor europeia da época, descontando as russas, mas o pensamento dominante na cabeça da nadadora de Felgueiras será o tempo que marcará o cronómetro no final.

Francisca ainda nadará os 200 e 800 metros livres.

Esta é a segunda participação em Europeus de Piscina Longa de Francisca Martins, depois de Budapeste 2021.

Gabriel Lopes – Depois da medalha em Roma, o nadador do Louzan Natação não enjeitaria repetir o feito, mas entre a repetição da medalha europeia ou a repetição da participação olímpica, Gabriel deve escolher a segunda hipótese. Naturalmente que, não sendo eventos mutualmente exclusivos, se acontecerem os dois em simultâneo tanto melhor.

O nadador de Coimbra vai com tudo e nada apenas os “seus” 200 metros estilos na tentativa de chegar aos tão desejados 1:57.94.

Passando para as águas abertas, sem os olímpicos Angélica André e Tiago Campos, são os mais jovens Mafalda Rosa e Diogo Cardoso que assumem o protagonismo da representação lusa.

Diogo Cardoso – O nadador do Sporting teve nos Europeus de Roma, em 2022, porventura aquela que foi a sua prova internacional mais bem-sucedida, tendo em conta a classificação final e o nível da competição. Foi 12.º classificado nos 5 km e 15.º nos 10 km.

Este ano enfrenta novamente um forte alinhamento com a presença de 7 dos 10 primeiros nos últimos mundiais na prova de 10 km, estando em Belgrado os três que ocuparam o pódio.

Tendo em conta o contexto, melhorar as posições de há dois anos seria um excelente desempenho para o nadador sportinguista.

Mafalda Rosa – Aos 21 anos, a nadadora do Clube de Natação de Rio Maior participa nos segundos europeus da sua carreira.

Em Roma, já se classificou no top-10, tendo sido 9.ª na prova de 5 km. Em Belgrado competirá (outra vez) nos 5 e 10 km.

Apesar da ausência de nomes de peso como Sharon van Rouwendaal ou Angélica André, as provas continuam bastante competitivas com a presença de nomes como Leonie Beck, Maria de Valdes ou Caroline Jouisse. Contudo, com o acréscimo de experiência da jovem nadadora portuguesa, poderá aspirar a melhor o seu registo em europeus e entrar no top-8, quer nos 5, quer nos 10 km.

A natação artística continua a fazer o seu caminho de afirmação e leva a Belgrado duas estreias internacionais em competições absolutas.

Cheila Vieira e Maria Beatriz Gonçalves – As consagradas nadadoras da Gesloures vão participar nos seus quintos europeus, desta feita apenas no dueto técnico.

Uma história que tem vindo sempre em crescendo, Cheila e Beatriz alcançaram as suas melhores classificações no Euro de há dois anos, a primeira vez que chegaram à final da competição e logo por duas vezes, no dueto técnico e no dueto livre. Pela primeira vez em Europeus superaram a marca de 80 pontos e chegaram a ambas as finais.

Depois de ficarem tão perto de um histórico apuramento olímpico, a história não fica por aqui e poderá o dueto português subir mais uns degraus na hierarquia europeia.

Filipa Faria e Daniel Ascenso – A natação portuguesa estreia-se na categoria de dueto misto, neste caso dueto livre misto, uma categoria que apenas agora se começa a popularizar e a desenvolver maior densidade competitiva, mas onde ainda apenas encontrará 6 duetos adversários na competição, pelo que se pode antecipar uma classificação histórica para a natação artística portuguesa e para os dois nadadores da Gesloures. No fim veremos o quão histórica será.

Filipa Faria apresenta-se ainda no solo técnico, numa primeira experiência internacional a este nível.

Finalmente, Portugal faz o pleno com a participação nos saltos para a água.

Luísa Arco – A vice-campeã europeia de juniores de plataforma de 10 metros estreia-se junto da elite europeia e é a primeira a representar Portugal nesta competição nos saltos para a água.

A nadadora que vive e treina no Canadá participará nas provas de trampolim 3 metros e plataforma 10 metros.

O feito é, por si, digno de nota para um país sem tradição nesta disciplina olímpica, mas sendo da responsabilidade de uma saltadora de apenas 16 anos ganha maior destaque.