Europeu Roma 2022 - a aposta certa

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Roma’22: a aposta certa

Balanço da participação portuguesa no Europeu de Roma 2022 por João Bastos.

Indo direto ao assunto: esta foi a melhor competição internacional absoluta da história da natação portuguesa, atendendo a qualquer critério. No espaço de uma semana Portugal igualou o registo acumulado de 75 anos de participação em Europeus.

À chegada a estes Europeus, Portugal contava no seu palmarés com duas medalhas: a prata de Alexandre Yokochi nos 200 bruços em 1985 e o bronze de Alexis Santos nos 200 estilos em 2016 e em Roma duplicou a contagem com as duas de bronze, por intermédio de Diogo Ribeiro nos 50 mariposa e de Gabriel Lopes nos 200 estilos, que somou na capital italiana.

Em termos de finais, Glasgow’2018 distinguia-se como a edição em que mais portugueses marcaram presença na prova decisiva, com 5 finais disputadas. Em Roma tivemos nadadores lusos em 9 finais.

Em várias edições Portugal conseguiu estar presente em 8 meias-finais (Debrecen’2012, Budapeste’2010, Budapeste’2006, Madrid’2004 e Madrid’2000). Em Roma esse registo máximo foi amplamente superado e quase duplicado com a presença em 14 meias-finais.

Relativamente a recordes nacionais, em Roma caíram 10 absolutos, 5 seniores e 7 juniores. Melhor que este ano só mesmo a memorável campanha de Berlim’2002 onde caíram 20 recordes nacionais absolutos, 14 seniores e 2 juniores, com grande contributo das três estafetas masculinas e dos mariposistas Simão Morgado e Sara Oliveira que bateram 5 recordes nacionais, cada um.

No que respeita à melhor classificação obtida, os terceiros lugares de Diogo Ribeiro nos 50 mariposa e de Gabriel Lopes nos 200 estilos igualam o terceiro lugar de Alexis Santos nos 200 estilos em 2016 e só são superados pelo segundo lugar de Alexandre Yokochi nos 200 bruços em 1985.

Finalmente, na classificação coletiva – uma classificação introduzida a partir de 2002, Portugal classificou-se no 14º lugar com 162 pontos, superando a anterior melhor classificação (16º com 176 pontos) em Glasgow’2018 e superando nesta edição a Ucrânia de Romanchuk, a Lituânia de Meilutyte e a Dinamarca (que atualmente não tem figuras de proa, mas que é uma nação histórica da natação europeia)

Em seguida, olhamos em pormenor para a prestação dos 10 nadadores que representaram a equipa das Quinas na natação pura e que conseguiram algo inédito: pela primeira vez todos os nadadores conseguiram ultrapassar a fase de eliminatórias pelo menos em uma das provas que nadaram (os nadadores estão ordenados pelas melhores classificações obtidas nas provas que nadaram):

Diogo Ribeiro

Era grande a expetativa relativa ao desempenho do prodígio conimbricense na sua primeira grande competição internacional absoluta. Ainda mais depois dos dois pódios nos Jogos do Mediterrâneo e da dupla vitória no Open de Espanha.

E o júnior português teve uma exibição que não chamou só a atenção dentro do nosso retângulo. Na estreia internacional ao mais alto nível o nadador do Benfica mostrou (mais uma vez) que é um fora de série e um talento ímpar da natação portuguesa.

O ponto alto é, naturalmente, a sua medalha de bronze nos 50 mariposa com o tempo de 23.07, a ameaçar o recorde do mundo de juniores de 23.05 (lembrando que ainda tem a oportunidade de lá chegar nos Mundiais de Juniores do Perú). Com esta medalha conquistada com apenas 17 anos, Diogo equipara-se apenas a Yokochi e Alexis – e agora também a Gabriel - no panteão dos medalhados em Europeus de Piscina Longa. A diferença é que Yokochi tinha 20 anos quando subiu ao pódio em Sófia, Alexis 24 quando subiu ao pódio em Londres e Gabriel 25 este ano.

Diogo alcançou outra final, nos 100 mariposa, onde se classificou na 8ª posição. Nas contas finais, bateu o recorde nacional absoluto dos 50 mariposa por três vezes, o dos 100 mariposa uma vez, o dos 100 livres uma vez e nos 50 livres bateu por duas vezes o recorde nacional de juniores.

Nos 100 mariposa colocou-se na rota de Paris ao nadar em 51.61, abaixo dos 51.67 que serão exigidos a partir de 1 de março de 2023.

Roma é uma cidade talismã para o imperador Diogo Ribeiro, lembrando que foi na piscina do Foro Itálico que no ano passado se tinha sagrado vice-campeão europeu de juniores nos 100 mariposa.

Gabriel Lopes

Se o bronze de Diogo Ribeiro veio logo no segundo dia, Gabriel guardou o melhor para o fim com a subida ao pódio no último dia de competições.

Depois de ser o melhor nas eliminatórias e nas meias-finais, o olímpico da Lousã ocupou a pista 4 da final dos 200 estilos, numa prova que contava com o recordista do mundo de juniores (Hubert Kos), o medalhado de prata nos Europeus de Londres’2016, quando Alexis foi bronze (Andreas Vazaios) e o medalhado de bronze nos Jogos Olímpicos do ano passado (Jeremy Desplanches).

O nadador de Vítor Ferreira terminou com um novo recorde pessoal de 1:58.34, a 15 centésimos do recorde nacional de Alexis Santos e com direito a subir à posição de bronze.

Gabriel já tinha dado mostras de estar num excelente momento de forma quando conseguiu um excelente recorde nacional nos 200 bruços com a marca de 2:11.92, superando largamente os 2:13.21 de Carlos Almeida que já persistiam há 9 anos. Na meia-final fez o segundo melhor registo nacional de sempre e classificou-se no 10º lugar.

Tamila Holub

A pupila de Luís Cameira entra também na história da natação portuguesa ao ser a primeira mulher lusa a chegar a duas finais no mesmo Europeu e a primeira a chegar a três finais consecutivas na mesma prova (1500 livres).

A nadadora do Sporting Clube de Braga alcançou as finais dos 800 e 1500 metros livres e, para se ter uma ideia da dimensão do que representa este desempenho da bracarense no contexto da natação feminina portuguesa, basta dizer que antes destes europeus só cinco mulheres (para além da própria Tamila) chegaram a finais (A) de europeus – Ana Barros, Joana Arantes, Sara Oliveira, Diana Durães e Ana Catarina Monteiro.

Tamila foi 5ª nos 1500 metros livres igualando a melhor classificação feminina de sempre – Ana Catarina Monteiro nos 200 mariposa de Glasgow’2018 – e 6ª nos 800 metros livres. Em termos cronométricos destacam-se os seus 16:18.64 nos 1500 metros que são a sua segunda melhor marca de sempre.

Camila Rebelo

A outra estreante em competições internacionais absolutas, para além de Diogo Ribeiro, também esteve a um nível fantástico alcançando a final dos 200 metros costas e juntando-se ao grupo (agora um trio) de portuguesas que conseguiram a melhor classificação feminina, ou seja, foi também 5ª classificada.

Se no duplo hectómetro de costas a nadadora orientada por Vítor Ferreira e Gonçalo Neves alcançou uma brilhante classificação, nos 100 metros alcançou dois excelentes recordes nacionais. Nas eliminatórias melhorou o máximo nacional, que já era seu de 1:01.10, para 1:00.94 e nas meias-finais fez ainda melhor e fixou o recorde nacional em 1:00.66, aproximando-se da mítica barreira do 1 minuto, assumindo uma séria candidatura a ser a Natalie Coughlin portuguesa (primeira mulher abaixo de 1 minuto nos 100 costas).

Nadou ainda os 50 costas onde ficou na 23ª posição a escassos 7 centésimos do seu recorde pessoal.

João Costa

2021/2022 fica marcada como a época de afirmação de João Costa na elite internacional. O jovem vimaranense já se tinha estreado em Europeus no ano passado, onde foi semifinalista dos 200 costas, mas em Roma passou para o patamar seguinte.

O nadador treinado por Rui Costa abriu a prova de 100 metros costas com recorde nacional logo nas eliminatórias nadando em 53.87, 1 centésimo melhor que o máximo que já era seu, o caminho para a final foi sendo feito abaixo dos 54, com 53.90 nas meias-finais. Na final voltou a ficar próximo dos registos anteriores nadando em 54.01 e garantindo um excelente 5º lugar.

Nos 200 costas repetiu a meia-final de Budapeste e foi desta vez 11º (havia sido 14º no ano passado) com 1:58.96 nas meias e 1:58.68 nas eliminatórias, a sua segunda melhor marca. Nos 50 metros costas foi 24º classificado.

Diana Durães

A cumprir os seus quartos europeus, a benfiquista alcançou a sua segunda final. Depois do 7º lugar nos 400 metros livres de Glasgow’2018, a olímpica treinada por Ricardo Santos repetiu a posição, desta vez nos 1500 metros livres.

Ao contrário dos seus companheiros de seleção, Diana participou na sua segunda grande competição internacional da época de piscina longa, depois de ter estado nos Mundiais de Budapeste em junho e, no que respeita aos 1500 metros, acabou por fazer uma marca muito próxima (16:26.53 nos Europeus vs 16:25.23 nos Mundiais). No que diz respeito à prova mais longa, as duas competições internacionais desta época foram onde Diana conseguiu as suas melhores marcas da carreira considerando apenas provas internacionais, o que evidencia que, depois de uma época olímpica complicada do ponto de vista da sua saúde, Diana está aos poucos de volta ao seu melhor nível.

Nadou ainda os 800 metros livres onde foi 14ª classificada.

Ana Catarina Monteiro

Estes Europeus de Roma foram uma competição de gestão de ansiedade para a semifinalista olímpica do Vilacondense, uma vez que a sua melhor prova se nadou apenas no último dia de competição.

Depois de ter feito o seu melhor tempo pós-pandemia nos Jogos do Mediterrâneo, a nadadora de Fábio Pereira dava mostras de poder voltar a ter uma competição internacional em grande plano.

E assim foi, depois do 5º lugar de Glasgow, Ana Catarina Monteiro voltou a estar presente na final dos 200 mariposa onde, desta vez, foi 7ª. Marcou 2:10.79.

Nos 100 mariposa foi 23ª classificada.

Rafaela Azevedo

Costas foi uma técnica onde Portugal durante alguns anos teve dificuldade em garantir representação internacional, sobretudo no setor feminino, mas nestes Europeus de Roma teve mais do que um representante em todas as distâncias e em ambos os géneros.

Rafaela Azevedo fez parte desse quarteto de costistas presentes em Roma nadando os 50 e os 100 metros.

A nadadora do Algés que treina no CAR do Jamor com Alberto Silva chegou às meias-finais dos 100 metros, nadando em 1:01.56 e classificando-se na 11ª posição. A participar nos seus segundos Europeus de Absolutos, a algesina, com este 11º lugar, consegue assim melhorar aquela que era a sua melhor classificação em europeus, o 18º lugar do ano passado nos 50 costas.

Na prova dos 50 metros, onde é recordista nacional, classificou-se na 20ª posição.

Ana Pinho Rodrigues

Seis anos depois a nadadora da Escola Desportiva de Viana voltou a uns Europeus de Piscina Longa e não acusou os anos de ausência.

Para a sua principal prova, os 50 metros bruços, a expetativa já era grande depois do sensacional novo recorde nacional marcado no Open de Portugal com 31.09 e a nadadora de Rafael Ribas voltou a ver a fasquia dos 31 segundos ainda mais próxima. Fez 31.04 nas eliminatórias e o novo recorde nacional garantiu-lhe o acesso à meia-final onde se classificou 11º lugar final.

Nadou ainda os 100 metros bruços onde foi 25ª classificada.

Francisco Santos

O sportinguista orientado por Carlos Cruchinho foi a Roma completar a tripla coroa de costas, à semelhança do que fez no ano passado em Budapeste, onde estabeleceu dois recordes nacionais (ainda que o dos 100 costas se tenha mantido apenas durante 2 minutos) e onde chegou à meia-final dos 200 metros costas.

Apesar de em termos cronométricos não ter estado ao mesmo nível do ano passado, Francisco repetiu a dose com a meia-final nos 200 costas.

O beneditense foi 16º classificado na prova onde é recordista nacional com a marca de 2:00.73.

Nos 100 metros foi 26º classificado e nos 50 metros classificou-se no 29º lugar.

Num ano com mundiais e europeus, a aposta da Federação Portuguesa de Natação foi na competição mais tardia, acreditando que um planeamento mais estendido na época traria melhores resultados e os desempenhos da seleção nacional provam que a aposta foi acertada…e não apenas na natação pura.

Durante esta semana de competições o dueto da natação artística Cheila Vieira e Beatriz Gonçalves conquistaram uma histórica final para Portugal e vão começar as águas abertas onde a nossa seleção, depois dos resultados alcançados nos mundiais de junho, pode aspirar a alcançar resultados históricos também nesta vertente.

A primeira época deste ciclo olímpico termina com um balanço extremamente positivo sendo já notório o retorno do forte investimento realizado no início desta época onde a FPN apostou na contratação de um dos mais reputados treinadores do mundo, Alberto Silva, para a função de diretor técnico nacional para a natação pura e a criação da figura do diretor desportivo, assumida por José Machado, que garante a coordenação do alto rendimento de todas as disciplinas a uma mesma velocidade.

Os Europeus de Roma mostraram que a FPN fez a aposta certa.