Madalena Lousa esteve em plano de destaque no Mundial de Sub 20 em Coimbra. A jogadora portuguesa foi a melhor marcadora e também eleita para a equipa “All Star”. Para o site da FPN fala-nos como viveu o mundial, da seleção de Portugal e da sua geração. Conta-nos ainda como como começou a praticar polo aquático e como chegou ao topo mundial e o que espera ainda concretizar no futuro, no plano individual e coletivo.
Que balanço faz desta participação no Mundial, no plano coletivo e individual?
Partimos para o Mundial com a expectativa de fazer melhor do que tínhamos feito no Campeonato do Mundo anterior e isso foi conseguido. Fica sempre a sensação que podia ter corrido melhor nos jogos que perdemos, mas destaco o jogo da Nova Zelândia a partir do 2 período e o fantástico jogo que fizemos com o Japão. No plano individual correu muito bem. Trabalho muito e quando os resultados surgem é uma satisfação e alegria imensa. Estou muito feliz!
É a melhor marcadora do campeonato de Portugal. Tinha como objetivo chegar a melhor marcadora do Mundial ou foi pensando por objetivo em cada partida?
A melhor marcadora do mundial não foi um objetivo, mas foi um resultado fantástico! Não tínhamos objetivos individuais, e a prova disso é que sou destra e jogo à direita a maior parte do tempo, não fui chamada a marcar nenhum penalti no mundial e nos jogos mais fáceis fiquei muito tempo no banco. Sou uma jogadora da equipa e orientada pelo treinador, jogo onde me pedirem, sendo que o objetivo é que a minha equipa ganhe. Agora, gosto de marcar golos, gosto de decidir e dou sempre o meu máximo em todos os jogos em prol da minha equipa. Assim, tenho sido a melhor marcadora das provas nacionais, no ano passado fui a melhor marcadora do Campeonato da Europa U19 em Israel e este ano do Mundial.
Qual o seu segredo para ser tão concretizadora?
O segredo é fácil, mas dá trabalho! Tive na minha formação dos 11 aos 16 anos com o Professor Lajos Lorincz, o melhor do mundo. Ensinou-me o melhor da escola Húngara e puxou muito por mim. Lembro-me que no dia da folga eu tinha treino técnico individual só com o Lajos. Em cada exercício a palavra mais ouvida era o "Repete", "Repete" e quando conseguia dizia "Vês! É fácil!"
Depois já no Benfica aprendi e continuo a aprender a ser mais eficaz. Quando rematas é para marcar golo, não é para tentar marcar. Vemos os jogos, analisamos os erros e pensamos sempre como melhorar.
Como se define como jogadora? As características táticas e físicas…
Sou uma jogadora que só pensa em ganhar. Independentemente de estar a ganhar ou a perder por 10, nunca desisto, dou sempre tudo à minha equipa.
Tenho confiança em mim, não entro derrotada, nem se jogar contra a Hungria ou Espanha.
Faço um jogo coletivo inteligente, sou muito rápida e tenho um bom remate.
Integrou ainda a equipa “All Star”. Isso é mais uma motivação para melhorar?
Integrar a equipa "All Star" do mundial, eleita pelos Media, foi para mim a maior surpresa do Mundial. De repente olho e estou ao lado da Elena, da Panni, da Sofia e a Flynn tudo jogadoras fantásticas. Estou entre elas e isso era impensável antes de entrar neste mundial. Mais do que uma motivação para melhorar eu penso que nós Portugueses temos de pensar que é possível chegar a este nível. Se eu cheguei podemos ter mais 10 atletas Portuguesas que também podem lá chegar e aí estaremos a discutir o campeonato da Europa, do Mundo e os Olímpicos. Temos de pensar que é possível e trabalhar para isso.
O que mais a surpreendeu em termos de seleções adversárias? O tipo de jogo, as táticas, as jogadoras em termos individuais?
A Hungria é a Hungria! Melhor jogo coletivo e tático do Mundial, equipa muito homogenia. A Espanha é fortíssima. O Japão surpreendeu pelo tipo de jogo. Diferente de tudo, muito arriscado, mas muito interessante de analisar.
Em termos individuais admiro muito a Elena Ruiz.
Já tem muita experiência como jogadora, campeã nacional, mas o que destacaria nesta participação na sua carreira no plano individual e colectivo?
Destaco que Portugal e a FPN têm uma capacidade exemplar de organizar eventos internacionais.
Individualmente destaco as memórias que criamos aqui. E destaco, no jogo contra o Chile, a organização encheu uma bancada com crianças de menos de 10 anos. Nunca tive um público tão especial que tenha festejado os golos de forma tão entusiástica e efusiva. Foi lindo!
Também gostaria de realçar a afluência do publico aos jogos de Portugal, muito obrigada a todos!
Como começou a praticar polo aquático?
Comecei a praticar com 9 ou 10 anos, porque o meu irmão já estava a jogar. Tive vários professores e a todos estou muito agradecida. Destaco o Professor Lajos Lorincz, o Professor José Augusto, e o Professor António Machado que é o meu atual treinador do Benfica e da Seleção.
Como perspetiva o seu futuro como jogadora?
Tenho recebido muitos convites. Já os recebia antes e depois do Mundial, têm chegado muitas propostas de grandes clubes, de campeonatos muito competitivos. Mas eu já estou num grande Clube, o Sport Lisboa e Benfica e não penso sair nem em ir jogar para fora. Vou sempre pensar de como teria sido se tivesse ido para a Hungria ou Espanha, mas para ser coerente com o que penso, acho que se me mantiver em Portugal, também posso continuar a evoluir. Depois não posso pensar só no polo, tenho de pensar ao mesmo tempo no meu curso em medicina e no meu futuro profissional. Quando se escolhe perde-se sempre, mas penso que estou a tomar as decisões certas.
A seleção de Portugal juniores mostrou que é possível chegar longe. Como vê o futuro desta sua geração?
Vamos passar a sénior. Vais ser uma nova fase das nossas vidas. Temos Universidades, vamos entrar no mundo do trabalho e o nosso desporto é amador. Esta geração tem uma base forte e ainda vai dar alegrias ao Polo Aquático. Mas os responsáveis e a nossa geração como prioridade têm de pensar nas gerações mais novas, pensar em aumentar o número de praticantes para números que não nos deixem como agora no limiar da extinção. O Polo Aquático é um desporto apaixonante, exigente e tem inúmeros benefícios. Ajudar a preparar o futuro é a missão da minha geração.