Luísa Fragoeiro Arco, em entrevista para o site da FPN após a sua participação no Europeu de Juniores em Rijeka (Croácia), fala-nos na sua conquista da medalha de prata na prova de plataforma no primeiro dia de competições.
Um feito histórico para os saltos em Portugal, a primeira medalha para Portugal em grandes competições internacionais. A portuguesa revela-nos como encarou a competições, fala-nos dos seus treinos da importância do seu treinador e que objetivos definiu para o futuro.
Que balanço faz da participação no Europeu?
No geral, foi uma óptima experiência! Fiquei um pouco nervosa ao entrar na competição, pois sabia que os atletas da Europa eram muito bons e os juízes são muito exigentes, mas fiquei agradavelmente surpreendida com os meus resultados. Todos foram muito acolhedores, as instalações eram incríveis e atingi os objetivos traçados.
A medalha de prata teve um sabor especial? Era algo com que sonhava?
Alcançar um lugar no pódio não era algo que eu esperava para a minha primeira participação nos campeonatos Europeus, especialmente porque sou uma das atletas mais novas do meu escalão etário. Entrámos nesta competição com o objetivo de saltar o meu melhor e chegar a pelo menos uma final. Durante a competição não olho para os resultados até ao final da prova, por isso quando vi que estava em segundo lugar foi um momento muito especial para mim e para o meu treinador. Fiquei muito feliz com este resultado e por ter ganho uma medalha para o meu país.
Depois do 9.º lugar nas eliminatórias, o que mudou para chegar às medalhas?
Nas eliminatórias tenho 8 saltos para completar. O objectivo nesta primeira fase da competição é fazer os primeiros quatro saltos (os mais fáceis em termos técnicos) da melhor maneira possível, pois as pontuações desses saltos são transferidas para a final, e também ser consistente em todos os saltos. Na final, só tenho que fazer os quatro saltos opcionais (os mais difíceis). Chegar à final é uma honra para qualquer atleta, pelo que fiquei muito contente com o resultado. Acho que isso me ajudou a relaxar e concentrar, o que contribuiu para o meu sucesso. No aquecimento para a final, temos um tempo limitado para treinar os saltos, pelo que optei por treinar as entradas na água, sabendo que tinha memória muscular para os saltos mais difíceis. Também mudei um dos saltos da minha lista das eliminatórias para um salto de dificuldade mais elevada, que me daria mais pontos se bem executado. Ao contrário das eliminatórias, onde tive quase 20 minutos entre cada salto, tive apenas cerca de 8 minutos entre saltos, o que me permitiu manter-me quente e concentrada.
O Europeu em termos competitivos e organizativos foi o que esperou? Ou ficou surpreendida com algo?
Todos foram muito receptivos e os voluntários deram muito apoio. A piscina era numa localização privilegiada e com boas condições. O alojamento era impecável e a comida servida era deliciosa. Todos os atletas levaram a competição muito a sério e foram muito amigáveis e acolhedores.
O Europeu é muito diferente das grandes competições no Canadá?
As competições em termos de organização são muito semelhantes. A principal diferença que notei foi nos juízes. O julgamento nas competições europeias é bastante mais difícil, mas definitivamente muito justo.
Como foi lidar com as adversárias? Elas já te conheciam?
Eu já tinha ouvido falar da maioria delas mas não os conhecia pessoalmente. No mundial júnior conversei principalmente com atletas do Brasil e do Canadá. Foi muito bom conhecer atletas de outros países e com certeza fiz novos amigos. Também foi importante para mim vê-los saltar, o que me ajudou a perceber o que os juízes da Europa valorizam nos saltos e vai permitir melhorar o meu desempenho em futuras competições.
Como treina para se concentrar para uma competição destas. Há muita pressão? Tem algum ritual?
O meu treinador e eu trabalhamos ao longo do ano para estabelecer uma rotina que funcione para eu lidar com o nervosismo e fazer com que o meu desempenho na competição seja o melhor possível. Para manter a concentração, ouço música entre os saltos e jogo cartas quando a espera para saltar ultrapassa os seis minutos. É difícil depois de um salto esquecer o que fiz e concentrar-me no próximo salto, mas minha rotina foi aperfeiçoada o suficiente para que eu possa encarar cada salto como uma prova isolada.
O treinador tem um papel importante. O que ele te dizia em cada salto? Corrigia pormenores…
Parte da minha rotina com meu treinador é juntarmo-nos para conversar antes de cada salto. Depois de um rápido aquecimento, simulo o salto fazendo os movimentos para lembrar ao meu corpo o que tem de fazer. Nessa altura, o meu treinador diz-me no que me devo concentrar durante o salto. Fazemos o nosso aperto de mão e em seguida eu vou fazer o salto. Não teria sido possível atingir este resultado sem ele, definitivamente tem um papel fundamental no meu desempenho.
Qual a diferença para ti entre a plataforma e as pranchas? Gostas mais da plataforma?
A plataforma é definitivamente o meu evento favorito. Não há nada como a sensação de saltar dos 10 metros e voar. É uma das minhas sensações favoritas. As pranchas são um pouco diferentes e exigem uma técnica distinta na aproximação ao salto, controle e precisão. Estes são aspectos que gostaria de melhorar no próximo ano.
Tiveste apoio nas bancadas. Porque ouvíamos gritar por ti no direto. Foi importante sentires esse apoio?
Foi muito bom ter os meus pais, irmão, avós, tios e primos a apoiar-me. Foi a primeira vez que a minha família que vive em Portugal teve a oportunidade de me ver saltar e o seu apoio deu-me um incentivo especial.
Este europeu foi um passo importante na tua carreira? O que podes destacar na aprendizagem para o futuro?
A participação neste evento foi um passo muito importante na minha carreira! Participar em competições internacionais ajuda-me a perceber como me devo preparar e manter-me concentrada durante a prova. A estratégia que usei nesta competição para gerir o stress resultou bem e vou usar esta experiência para futuras provas. Também me ajudou a perceber os aspectos em que preciso de trabalhar para melhorar o meu desempenho e resultados.
Agora que objetivos tens para 2024?
Em 2024 vou trabalhar nos meus saltos de plataforma para aumentar o nível de dificuldade e perfeição.
Preciso de ter 5 saltos de dificuldade elevada na plataforma de 10 metros para poder participar em competições seniores. Neste momento tenho apenas 2, pelo que vou me concentrar este ano em preparar os saltos que me faltam para poder competir a este nível em provas internacionais.
Vou também aperfeiçoar os movimentos, graciosidade, força e condição física para me permitir ter pontuações mais altas em cada salto e melhorar o meu desempenho global.
Os jogos olímpicos são um sonho? Ou uma realidade mais próxima?
Participar nos jogos olímpicos é o meu sonho. Os resultados deste Europeu dão-me a confiança e são um incentivo para continuar a trabalhar para tornar este sonho realidade.