Daniel Viegas: «O Europeu de Juniores em Setúbal vai ser muito forte»

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Daniel Viegas, Diretor Técnico Nacional (DTN) para as Águas Abertas, fala-nos na seleção que irá participar no Europeu de Juniores em Setúbal, de sexta a domingo, 3 a 5 de junho. As condicionantes com a pandemia e o futuro das águas abertas em Portugal, os seus objetivos. Da elite europeia que já é elite mundial e que irá competir pelas medalhas. Assim como da organização da FPN e da CM de Setúbal que leva a FINA a considerar a prova no Sado, com as suas características, como «a verdadeira» prova em águas abertas.

Como caracteriza a seleção juniores de Portugal?

A seleção portuguesa é uma seleção muito renovada. A transição do ciclo olímpico com a pandemia, provocou na natação em geral e aos clubes em particular, um corte muito grande ao nível da formação. Muitos dos atletas que já tínhamos, alguns integrados nas seleções, acabaram por desistir, por falta de motivação, por não ter piscina para treinar. O que acabou por refletir-se nas águas abertas, na natação pura e nos clubes. Neste momento, e já depois do ano passado termos conseguido recuperar alguns nadadores e realizar uma participação bastante digna no Europeu de juniores de 2021 que decorreu em Paris, mesmo assim, tivemos três nadadores que entraram para a universidade e também deixaram a competição e isso fez com que este ano, tirando três nadadores que se mantiveram no grupo, o resultado da seleção acabou por ser renovado.

Como se processou essa renovação?

«Foi realizado um investimento muito grande junto de alguns clubes, junto dos nadadores que nadavam distâncias de fundo na piscina para que viessem experimentar as águas abertas e alguns com sucesso, mas vai ser muito difícil esta competição porque uma parte deles não tem ainda a experiência competitivas suficiente para chegar aqui e competir num palco destes. Embora sejam bons nadadores de piscina e tenham feito um bom resultado, aqui vai ser um pouco diferente, mas estamos convencidos que nesta seleção estarão mais nadadores com futuro tal como a Mafalda Rosa que já comprovou que tem nível para passar ao escalão absoluto e esperamos aqui conseguir catapultar ao longo destes próximos anos alguns nadadores.

A natação em águas abertas tem as suas particularidades…

As águas abertas têm especto específicos que torna complicado pro vezes a sua formação levando mais tempo até atingirem a maturidade competitiva, já que são provas de fundo de endurance o que requer muitas horas nas piscinas, muito esforço, muitas competições para ganharem experiência. Para além da experiência competitiva, são provas que não tem viragem o que a torna diferente no treino. São provas muito longas e com muito contacto físico o que é mais uma questão que é sempre preciso ter em conta.

Portanto temos uma seleção nova com ambição…

Há alguns nadadores, com experiência, que esperamos resultados melhores, mas temos outros nadadores que vão em busca de boas classificações, o que significa tentar aproximar do meio da tabela. Nunca por menos, embora alguns deles irão realizar uma prova difícil porque vão ter de lutar muito para atingir esses objetivos.

Esta prova tem condições muito difíceis?

É, talvez, dos últimos cinco seis anos que se realiza europeus de juniores, a prova com condições mais agressivas, com ondulação e correntes. Esta prova realiza-se quase sempre em lagos ou em locais como Malta, no porto de Marselha com água quente e mar parado. Em Setúbal estamos expostos aos elementos. No Sado é uma prova que tanto pode ser mar calmo, como pode ser chamada “maquina de lavar”, com mar muito picado, com esse tipo de tempo está este fim-de-semana. Portanto, vamos ver aqui os nadadores mais jovens vão ter que ter aqui alguma “resiliência” para conseguir atingir os seus objetivos.

E no plano internacional?

Em termos gerais esta prova vai ser muito forte. Posso dizer que temos aqui já quatro a cinco nadadores com projeção internacional nas competições absolutas que ainda são juniores. Por exemplo o nadador francês Sacha Velly que há três semanas venceu uma Taça da Europa Piombino, na Itália, à frente de medalhados olímpicos como Grégorio Paltrinieri e Kristof Rasovszky. Ou seja, um nadador que vai nadar os 7,5 km, e tem ainda mais dois anos de júnior. Outro, o húngaro David Betlehem, também já na elite mundial, 7.º há uma semana na Taça do Mundo em Setúbal. A portuguesa Mafalda Rosa, que o ano passado nadou em lugar de qualificação olímpica. A seleção italiana, a seleção húngara e outras que por norma tem sempre nadadores muito fortes no escalão júnior.

Um Europeu de juniores numa organização de excelência…

Organização da FPN com a CM Setúbal tem já um longo histórico. Esta é a primeira prova com características diferentes pela distribuição das provas. A nível do plano de água, a organização tem sido muito boa e vai continuar a ser. O "campus" de prova prima pela segurança. Até pelas condições algo difíceis que apresenta, acaba por ter uma preocupação redobrada com as questões de segurança, algo que nunca falhou em Setúbal. Até no tempo em que se nadava sem fatos e havia muitos nadadores a desistir com frio, o que agora já não se verifica com os fatos isotérmicos, mas a organização está bem montada, apesar do desafio de dois fins de semana seguidos, mudar figurinos, fundos do evento, mas está tudo a correr bem e tenho a certeza que vai ser uns grandes campeonatos.

No seguimento do Plano de Alto Rendimento e Seleções Nacionais de Águas Abertas 2022, a direção da FPN convocou para a competição os seguintes nadadores: Alexandre Morari (5km) CNRM; Bruno Loureiro (7.5km) FCP; Gustavo Marques (10km) CUC; Martim Carvalho (10km) CNRM; Ricardo Santos (7.5km) CPFZ; Marta Aguilar (5km) CNAC; Daniela Lopes (7.5km) GDNFAMA; Mafalda Rosa (10km) CNRM. Treinador FPN: Daniel Viegas; Treinadores Convidados: António Martinho (CUC), Nuno Ricardo (CNRM), Pedro Faia (GDNVNF) e Rui Fonseca (CNAC).