Balanço - Campeonatos Nacionais Coimbra 2022 em 10 momentos

Image

Balanço do Campeonato Nacional de Juvenis, Juniores e Absolutos Coimbra 2022

por João Bastos

Regressaram os nacionais da primavera. Depois do interregno forçado causado pela pandemia a dúvida sobre o nível competitivo que se iria encontrar em Coimbra entre os dias 31 de março e 3 de abril era grande, mas os 11 recordes nacionais absolutos (com mais 4 da natação adaptada), mais os 7 de seniores e 7 de juniores mostraram que os constrangimentos da pandemia estão ultrapassados e que se revela evidente a renovação geracional que a elite da natação portuguesa está a experimentar.

Entre vários destaques que podíamos dar destes nacionais, elegemos 10 momentos que contam a história destes Campeonatos Nacionais de Juvenis, Juniores e Absolutos de Piscina longa

  1. Diogo absoluto

Um dos grandes destaques do nacional de juniores e absolutos – se não o maior - foi o júnior do Benfica, Diogo Ribeiro que na primeira prova que nadou nesta competição entrou para a História da natação nacional tornando-se no primeiro português a baixar dos 49 segundos aos 100 metros livres. Tal como Tiago Venâncio em 2004, Diogo Ribeiro em 2022 chega ao recorde nacional absoluto da prova ainda em idade de júnior.

48.96 nas eliminatórias fica registado como o primeiro (certamente de muitos) recorde nacional absoluto de Diogo Ribeiro com direito ao primeiro apuramento para uma prova internacional de absolutos, neste caso os Europeus.

Na final fez ainda melhor vencendo com o segundo recorde nacional absoluto da sua carreira em 48.72 e mínimos para os campeonatos mundiais que se realizam em junho em Budapeste.

Tendo em conta que o mínimo para Tóquio foi de 48.57 e que lá o 14.º classificado nadou em 48.34, a distância para Paris encurtou-se consideravelmente para Diogo Ribeiro.

Para se enquadrar a valia desta marca em termos internacionais, repare-se nos recordes pessoais aos 18 anos dos nadadores que chegaram aos pódios dos últimos Jogos Olímpicos e dos últimos dois Mundiais:

  • Kyle Chalmers (AUS) – 47.58 (título olímpico 2016 com recorde do mundo de juniores)
  • Kliment Kolesnikov (RUS) – 48.04 (abertura da estafeta campeã olímpica da juventude 2018)
  • Caeleb Dressel (EUA) – 48.97 (campeão do mundo de juniores 2013 com recorde dos campeonatos)
  • Mehdy Metella (FRA) – 49.89 (vice-campeão europeu de juniores 2010)
  • Nathan Adrian (EUA) – 50.51 (3º campeonatos absolutos EUA 2006)
  • Vladislav Grinev (RUS) – 52.27 (campeonatos nacionais da Rússia 2014)

Na segunda prova que nadou veio novo recorde nacional, desta vez de juniores, com 22.35 nas eliminatórias dos 50 metros livres, mínimo de acesso aos europeus de juniores e mundiais de juniores. Na final foi vice-campeão absoluto com 22.43.

No terceiro dia de nacionais foi a vez de nadar os 100 metros mariposa com novo recorde nacional de juniores18 e mínimo para os europeus e mundiais da categoria com o tempo de 52.85. Na final voltou a sagrar-se vice-campeão nacional, desta vez com 53.23.

A sua participação terminou como começou, com dois momentos históricos nos 50 metros mariposa. Logo de manhã, Diogo superou a última marca que resistia do único nadador tetra-olímpico português, Simão Morgado. Com 23.69, o nadador do Benfica superou por 3 centésimos a anterior marca.

Para fechar com chave de ouro, na final fez ainda melhor nadando para 23.54, assegurando mais um mínimo para os europeus de absolutos e outro para os mundiais de absolutos.

  1. Miguel Nascimento igual a si próprio

Miguel Nascimento foi outro nadador do Benfica com bons desempenhos nestes campeonatos. Nas quatro provas que nadou estabeleceu três recordes pessoais e na única em que isso não aconteceu ficou a apenas 3 centésimos.

Nas suas quatro provas encontrou o seu colega de equipa e de treino no CAR do Jamor, Diogo Ribeiro, ficando as contas equilibradas entre eles: Diogo venceu os 100 metros livres e 50 metros mariposa e Miguel venceu os 50 metros livres e os 100 metros mariposa.

Em termos cronométricos o destaque vai para os seus 22.16 aos 50 metros livres que se consubstanciam como recorde nacional igualado ao anterior recorde que já era seu. No Open de Portugal em dezembro de 2020 no Jamor o algarvio do Benfica nadou em 22.16 e pouco mais de um ano depois volta a fazer essa marca, desta vez em Coimbra.

A marca abre-lhe as portas para os Mundiais de Budapeste e para os Europeus de Roma.

Nas provas de mariposa trouxe também novos recordes pessoais de Coimbra. Nadou os 50 metros pela primeira vez abaixo de 24 segundos nas eliminatórias, em 23.79, e pela segunda vez na final, em 23.86. No restrito lote de nadadores sub-24 aos 50 mariposa só lá moram mesmo ele, Diogo Ribeiro e Simão Morgado.

Na prova de 100 metros ficou próximo de quebrar a barreira dos 53 segundos, nadando em 53.06, melhorando o seu recorde pessoal que era de 53.24 desde abril de 2017 (feito igualmente nos nacionais em Coimbra).

Finalmente nos 100 metros livres, mesmo sem recorde pessoal, e mesmo vendo o seu recorde nacional ser batido, a indicação dada foi boa com a sua segunda melhor marca pessoal de sempre em 49.07, lembrando que na próxima semana deverá ter nova oportunidade de nadar a prova nos campeonatos nacionais de clubes da 1ª divisão.

  1. Camila no Euro

Quem também carimbou a sua estreia numa grande competição internacional absoluta foi a nadadora do Louzan Natação, Camila Rebelo. A cumprir o seu segundo ano de sénior, a jovem lousanense tirou mais de um segundo e meio ao seu melhor aos 100 metros costas para estabelecer um novo recorde nacional absoluto da prova no tempo de 1:01.10, superando o mínimo para os Europeus por 1 centésimo!

Camila protagonizou dos melhores duelos dos campeonatos com Rafaela Azevedo, que levou a melhor nos 50 metros costas, mas também aí a nadadora da Lousã esteve em grande nadando pela primeira vez abaixo dos 29 segundos (28.82).

Mas o melhor estava reservado para a prova mais longa de costas, os 200 metros. De manhã, e de forma que pareceu algo surpreendente até para a própria, Camila Rebelo nadou em 2:15.00 superando o recorde nacional de Rita Frischknecht fixado em 2:15.02.

À tarde conseguiu ainda melhorar quase 4 segundos, vencendo a prova em 2:11.18, com mínimo para os europeus e ficando a 1 décimo do mínimo para o mundial que parecia inacessível antes desta prova.

É preciso recuar ao ano de 1989 para encontrar uma evolução do recorde nacional absoluto dos 200 metros costas femininos superior a estes 3,82 segundos entre as duas provas de Camila quando Ana Barros nadou em 2:18.92 superando o anterior recorde (que já era seu) de 2:24.10.

  1. Costa no Mundial

Duas em três foi o registo de João Costa nas provas de costas. Este Costa só não teve maioria absoluta porque encontrou um Francisco Santos de grande nível nos 200 metros.

O nadador do Vitória de Guimarães venceu os 50 e os 100 metros, mas não o fez de forma cinzenta. Teve uma participação absolutamente brilhante nestes campeonatos nacionais.

O maior destaque tem de ir para o excelente novo recorde nacional dos 100 metros costas de 53.88. Jeff Rouse foi, no início dos anos 90, o primeiro ser humano a nadar 100 costas abaixo de 54 segundos e, 30 anos depois, João Costa foi o primeiro português a fazê-lo.

A marca dá acesso aos campeonatos do Mundo e campeonatos da Europa e representa uma melhoria de quase meio segundo face ao anterior recorde nacional.

O tempo de apuramento para os últimos Jogos Olímpicos foi de 53.85 e o 14º em Tóquio fez 53.74. O sonho olímpico de João Costa ganhou outras formas depois de Coimbra.

Ainda antes da prova dos 100 metros, Costa tinha vencido os 50 metros superiorizando-se ao recordista nacional Alexis Santos e com duplo recorde pessoal (25.60 nas eliminatórias e 25.51 na final).

Na final dos 200 metros protagonizou um excelente duelo com Francisco Santos, mas o sportinguista foi mais forte.

João Costa, ou Costinha como é conhecido nos meandros da natação portuguesa, deve exigir que a sua alcunha seja revista depois das marcas que fez nestes campeonatos…

  1. Bis de Ana Pinho Rodrigues

Antes de irmos até ao destaque principal da nadadora da Escola Desportiva de Viana, que é naturalmente o seu mínimo para os Europeus de Roma com duplo recorde nacional aos 50 metros bruços, aproveitamos para deixar alguns números alcançados por Ana Rodrigues nestes nacionais, qual deles o mais impressionante:

  • Nestes nacionais de Coimbra, Ana Pinho Rodrigues chegou ao seu 59º título nacional absoluto individual, sendo a nadadora (considerando mulheres e homens) com mais títulos absolutos individuais, vindo na segunda posição Victoria Kaminskaya com 4 títulos absolutos individuais e Nuno Laurentino com 40.
  • Com os títulos de campeã nacional de categoria, Ana Pinha Rodrigues totaliza 100 títulos nacionais individuais.
  • Com as estafetas, a olímpica portuguesa tem um total de 120 títulos nacionais e 155 pódios.
  • Desde 2010 que os campeonatos nacionais de absolutos da primavera não conhecem outra vencedora dos 50 metros bruços para além de Ana Pinho Rodrigues quando, nesse ano de 2010 (nessa ocasião as classificações eram de júnior e sénior), ainda júnior superou pela primeira vez a concorrência mais velha.
  • Nestes nacionais chegou ao 18º recorde nacional absoluto individual da sua carreira, 66º recorde nacional individual e, juntando as estafetas, o 81º recorde nacional da sua carreira.

Depois deste cartão de visita, vamos então destacar a sua grande prestação nestes campeonatos nacionais, a que conseguiu nos 50 metros bruços e que lhe abriu as portas dos europeus de Roma a uma unha negra dos mundiais de Budapeste.

A nadadora da Desportiva de Viana partiu determinada a quebrar o seu próprio recorde nacional de 31.35 e logo nas eliminatórias conseguiu-o, nadando em 31.24, garantindo desde logo a entrada nos Campeonatos da Europa.

Na final fez uma prova quase exatamente igual, batendo novo recorde nacional em 31.23. Por um centésimo foi melhor que na parte da manhã, mas por um centésimo foi pior que o mínimo exigido para os mundiais de Budapeste.

Ficou assim garantido o acesso ao terceiro europeu de piscina longa da sua carreira.

Ainda antes dos 50 metros bruços, nadou os 100 metros bruços e fez a sua segunda melhor marca da carreira em 1:08.76, a escassos 7 centésimos do seu recorde nacional.

  1. Tamila Holub de volta a Budapeste

Foi uma dos quatro tri-campeões nacionais nestes campeonatos (os outros foram o seu colega de equipa José Paulo Lopes, Raquel Pereira e a júnior Carolina Fernandes). Tamila venceu os 400, 800 e 1500 metros livres, mas o principal destaque veio logo na primeira prova que nadou, a mais longa, os “seus” 1500 metros livres.

A nadadora do Sporting Clube de Braga cumpriu as 30 piscinas no tempo de 16:28.19, alcançando mínimo de acesso para o seu 3º campeonato do mundo de absolutos (piscina longa) e 3º campeonato da europa de absolutos (piscina longa).

Aos 400 metros venceu com a sua quarta melhor marca de 4:14.23 e aos 800 metros nadou em 8:38.51.

Na NBA existem os jogadores “clutch”, que são os que têm capacidade de ganhar o jogo para a sua equipa nos últimos dois minutos. Olhando para as épocas de Tamila podia dizer-se que é uma nadadora “clutch” porque as suas melhores marcas são sempre obtidas no último macrociclo da temporada.

Nesse sentido, os desempenhos que teve agora em Coimbra foram dos melhores da sua carreira nesta fase da temporada, o que é um bom pronúncio para o que aí vem, assim como é bom pronúncio voltar a Budapeste à piscina onde, no ano passado, foi finalista europeia e estabeleceu o seu recorde pessoal aos 1500 e onde, nos mundiais de 2017, conseguiu a melhor posição da seleção nacional, o 10º lugar.

  1. E vão quatro europeus para Catarina

Ana Catarina Monteiro não se apresentou em Coimbra a bater as suas melhores marcas, nalguns casos esteve longe disso, como foi nos 200 metros mariposa em que os 2:10.84 são apenas a sua 24ª melhor marca (apesar disso só Sara Oliveira conseguiu nadar melhor do que esse tempo e só por uma vez), mas a expressão “com uma perna às costas” aplica-se na perfeição à nadadora do Vilacondense no que diz respeito a fazer mínimos para provas internacionais.

Com a marca da vitória em Coimbra, Ana Catarina Monteiro garantiu acesso ao Europeu de Roma, que serão os quartos europeus de piscina longa da sua carreira.

  1. Francisco Santos volta a Itália

A primeira grande competição internacional do costista do Sporting foram as Universíadas em Nápoles, em 2019. Aí atingiu a meia-final dos 200 metros costas. Dois anos depois apurou-se para os Europeus de Budapeste, onde atingiu a meia-final dos 200 metros costas e, no mesmo ano, acabou por se apurar para os Jogos Olímpicos de Tóquio na prova dos 200 metros costas.

Nestes nacionais, na última jornada e já depois de ver o seu recorde nacional dos 100 metros costas ser batido por João Costa, o sportinguista puxou dos galões e venceu categoricamente os 200 metros costas com o tempo de 1:59.10, tempo que lhe garante o acesso em mais uma grande competição internacional, neste caso em Roma, regressando a um país onde já foi feliz.

  1. Carolina Fernandes, Kevins Apseniece e Gustavo Marques

Para além de Diogo Ribeiro, houve três juniores que deram nas vistas, a começar pela nadadora do Galitos de Aveiro, Carolina Fernandes, que foi uma dos quatro tri-campeões nacionais de absolutos.

A nadadora treinada por Élio Terrivel venceu os 50 metros livres, os 50 e os 100 metros mariposa, com destaque para esta última onde com 1:00.20 carimbou o acesso aos Campeonatos do Mundo de Juniores. Levou ainda para Aveiro o recorde nacional júnior 17 dos 50 metros livres, com mínimos para os europeus, em 26.17. Nos 100 metros livres foi vice-campeã absoluta com mais um mínimo (nesta prova já o tinha) para os europeus de juniores em 57.31.

Já o nadador do Futebol Clube do Porto, Kevins Apseniece, sagrou-se campeão nacional absoluto nos 200 metros mariposa e juntou-se a Diogo Ribeiro e Carolina Fernandes nos Europeus de Juniores com a sua marca de 2:02.33.

Ao cair do pano destes nacionais, o nadador do União de Coimbra, Gustavo Marques, participou na entusiasmante prova de 400 metros livres, terminando na posição de bronze com o tempo de 4:01.04, abaixo do tempo exigido de 4:01.28 para participar nos Europeus de Juniores de Otopeni, na Roménia, tornando-se assim no 4º integrante da comitiva.

  1. Juvenis

Se no campeonato nacional de juniores e absolutos os efeitos da pandemia já não se fizeram sentir nas marcas registadas, obtendo-se inclusivamente mais 3 recordes nacionais absolutos do que os 8 que tinham sido registados em 2019, já não se pode dizer o mesmo dos juvenis, com a paragem competitiva a impactar na qualidade das marcas registadas.

Na comparação com o último campeonato nacional de juvenis, em 48 provas os campeões nacionais de 2019 fizeram melhor tempo que os campeões nacionais de 2022 em 37 ocasiões. Houve ainda 18 marcas vencedoras em 2022 que em 2019 não subiriam ao pódio na sua categoria e ainda o caso de duas provas em que os vencedores juvenis A de 2022 não subiriam ao pódio de 2019 das respetivas provas…na categoria juvenil-B.

Quanto a destaques individuais, na categoria de juvenis A masculinos, Daniel Tavares, dos Bombeiros da Mealhada, foi o nadador com mais títulos individuais (50 e 100 metros livres e 50 metros mariposa) mas, somando as estafetas, foi Guilherme Baptista quem conquistou mais ouros (5).

Nas juvenis A três nadadoras conquistaram três títulos: Maria Emília Almeida (Galitos de Aveiro) venceu os 100 e 200 mariposa e os 800 metros livres; Mafalda Mesquita (Famalicão) venceu os 100 e 200 costas e os 1500 metros livres; e Rita Santos (Naval Setubalense) venceu os 200 e 400 estilos e os 200 metros bruços. A nadadora de Setúbal ganha vantagem com as duas estafetas campeãs nacionais em que participou: 4x200 metros livres e 4x100 metros estilos.

Nos juvenis B o destaque vai para o nadador do Benfica Rafael Mimoso, triplo campeão nacional nas provas de bruços, 50, 100 e 200 metros, sempre com marcas superiores aos juvenis A.

Em femininos, na categoria juvenil B, a maior ganhadora foi Maria Gomes Neves do Sporting Clube de Braga, vencedora dos 200, 400 e 800 metros livres, 100 e 200 metros costas.

E assim foi o Campeonato Nacional de Juvenis, Juniores e Seniores que decorreu ainda em paralelo com o Campeonato Nacional de Longa Distância. A caravana da natação nacional segue agora para o Jamor onde se disputa no próximo fim-de-semana os campeonatos nacionais de clubes da 1.ª divisão.

:::