Em contagem decrescente para o início da nova época desportiva de polo aquático, cujo início está agendado para 4 de outubro, com a realização da Supertaça Carlos Meinedo, em Felgueiras, o vice-presidente António Gomes concedeu uma entrevista ao site da Federação Portuguesa de Natação. O dirigente faz um balanço destes quase nove meses com o pelouro da disciplina e lança desafios para o futuro.
- Como foram os primeiros meses da época desportiva de 2024-2025 que, entretanto, terminou?
- Na verdade, tínhamos como alternativa um de dois caminhos a percorrer. Esperar pela época de 2025-2026 e usar os primeiros meses para estruturar as ações a desenvolver no futuro ou... não perder tempo e dar gás à peça. Como se viu, optámos pela segunda via. Cerca de 30 dias após a tomada de posse estávamos a fazer uma reunião geral de clubes e Associações Territoriais (AT) onde apresentámos o plano para o resto da época, as novas equipas técnicas das seleções e um plano ambicioso de trabalhar com cinco seleções até 30 de agosto. Em suma, foram oito meses sem parar.
- Foi difícil a adaptação?
- Não, de todo. Na verdade, cedo ficou decidido que o núcleo duro seria composto por Miguel Pires e Fernando Leite, ao qual se adicionou um novo elemento, Paulo Tejo, novo Diretor Técnico Nacional, com vasta experiência no polo aquático para dar sequência à nossa ambição.
- Quais foram as prioridades?
- Com uma época em curso, torna-se mais difícil mudar ou alterar um planeamento pré-definido e iniciar coisas novas. Por exemplo, querendo cumprir com um dos pilares da nossa estratégia, que passa pela dinamização de novos projetos de polo aquático na área da formação, é difícil executá-lo com a época a decorrer. Não sendo, na altura, possível, acabámos por priorizar uma das nossas opções estratégicas que foi o investimento nas seleções nacionais. Mas não só. Para se perceber o alcance do que foi feito, até podemos detalhar um pouco mais algumas das ações mais relevantes.
- Vamos a isso, sem uma ordem de prioridade diria…
- Definição de equipas técnicas para todas as seleções envolvendo treinadores principais, adjuntos, team managers, etc., num total de mais de 20 elementos que estiveram em ação de janeiro a agosto; Definição de ações para todas as seleções, tendo em conta que as seleções absolutas, masculina e feminina, iriam disputar qualificações para o Europeu e a ambição nos escalões de formação seria participar no Interfederações Sub-14 de Espanha, Europeu masculino Sub-16, na Eslovénia, e Europeu masculino Sub-18, em Rio Maior. Um conjunto de ações que mobilizou mais de 120 atletas de todas as idades; Assegurar, dentro das nossas possibilidades e das contingências, estágios de preparação adequados como aconteceu, por exemplo, com um torneio de preparação feminino com duas seleções que estiveram em Portugal a ajudar na preparação da Seleção Feminina para o torneio de qualificação em Setúbal, o estágio em Itália da Seleção masculina antes da qualificação em Malta, o Torneio de preparação da seleção Sub-16 na Chéquia antes do respetivo Europeu e o estágio de preparação em Abrantes da seleção de Sub-18; Definir e identificar, dentro dos diversos eventos por realizar, quais faria sentido apresentar candidatura para que fossem realizados em Portugal, o que acabou por suceder com a atribuição de um grupo de qualificação feminina em Setúbal e o Europeu de Sub-18 em Rio Maior; Aproveitar o apoio das autarquias para realizar torneios como o Torneio Carnival CUP Sub-16 de Matosinhos, o Torneio de Loulé (que se realizou este fim-de-semana) e o Torneio do Entrudo Sub-14, em Paços de Ferreira; Estimular ações de formação em Mini-Polo como aconteceu em Almada, Odivelas e Aveiro, sempre com a presença do selecionador nacional, Fernando Leite; Na área da formação, lançar o curso de Nível 2 e dar sequênciação/finalização ao curso de Nível 3 de treinadores; Assegurar uma vertente formativa importante com a Matosinhos Summit onde contámos ‘só’ com o treinador de Espanha, campeão do Mundo de Singapura, o treinador da Sérvia, campeão Olímpico em Paris, e Filipe Perrone, uma lenda do polo aquático que se despediu em Singapura com o título Mundial. Adicionalmente e para encerrar, irá ser realizado nos próximos dias um curso de formação de arbitragem que irá contar ‘só’ com o melhor árbitro da atualidade, Boris Margeta.
- Quais foram, para si, os momentos marcantes?
A qualificação da seleção feminina em Setúbal foi um momento especial. Portugal não se apurava desde 2016 e esta será a 4ª participação de uma seleção feminina num Europeu. Acresce que tudo fizemos para nada falhar e as atletas estiveram fantásticas, bem como a equipa técnica. Posteriormente assegurar a realização deste Europeu em janeiro do próximo ano na Madeira, foi uma enorme alegria e motivo de orgulho. Claro que temos presente que iremos realizar um megaevento em que todos os olhos do mundo do polo aquático vão estar no Funchal e teremos que dar uma resposta exemplar. Acrescentaria ainda mais três momentos, todos muito marcantes. Os novos troféus adquiridos para as equipas campeãs nacionais e vencedoras da Taça de Portugal. E porquê? Porque nestes troféus estão os nomes de todos os clubes que o fizeram no passado e acho indispensável construir o futuro relembrando o passado e, claro, prestando a devida homenagem a todos os clubes e atletas que conquistaram os referidos títulos. E, também por isso, foi pessoalmente emocionante entregar ao Ricardo Sousa, ao Pedro Sousa e à Inês Nunes uma placa de agradecimento da FPN por terem alcançado uma marca relevante e ímpar, isto é, mais de 100 internacionalizações ao serviço da Seleção Nacional. Muito, muito emocionante. Termino talvez com o momento mais simbólico por tudo o que representa. O documentário feito pela FPN que homenageou as atletas da seleção feminina que, há 30 anos, pela primeira vez, participaram num Europeu fazendo história, já que nenhuma seleção de um desporto coletivo o tinha feito até então! Ah! Falta acrescentar aquele momento especial que foi em Setúbal e em Rio Maior ouvir ao vivo as nossas e os nossos atletas cantarem o hino nacional numa competição realizada no nosso país...
- E momentos difíceis?
Quando muito se faz é normal que algumas coisas menos boas possam acontecer. Da piscina da Sra. da Hora, em Matosinhos, cujo quadro elétrico rebentou na véspera do Carnival Cup, até à piscina de Paços de Ferreira que ficou impossibilitada de ser usada e onde seria feito o estágio da seleção de Sub-18, aconteceu-nos de tudo um pouco. Felizmente muitos se disponibilizaram para ajudar e tudo se resolveu. O Fluvial cedeu a sua piscina para a Carnival CUP, o município de Paredes cedeu a piscina de Recarei em substituição da piscina de Paços de Ferreira e, assim, contra adversidades inesperadas fizemos com sucesso o nosso caminho.
- Os números finais são de facto expressivos. Alguma nota a acrescentar?
Não tenho neste momento ainda os dados finais que gosto de analisar e que tinha feito o levantamento relativamente a épocas passadas, isto é, número total de horas de treino/estágio/competição por atletas, considerando todas as seleções por escalão, feminino e masculino. Mas posso dizer com toda a certeza, repito, com toda a certeza, que o múltiplo é no mínimo de 10 vezes superior ao passado recente.
- Porque faz referência a esse indicador?
Por uma razão simples. Fez-se muito, mesmo muito primordialmente graças às parcerias e apoios feitos por todos os que quiseram ajudar o polo aquático. É difícil não mencionar a C.M. de Matosinhos, o João Regufe, incansável, e o vereador Nuno Matos indispensável, a Divisão de Desporto de Loulé e o Presidente da Analgarve, Fábio Bota, inexcedíveis, a C.M. Setúbal com a ajuda na qualificação feminina, o Luís Liberato sempre pronto a ajudar, C.M. Paredes, C.M. Rio Maior na pessoa do Presidente, Desmor na pessoa do Miguel Pacheco... o Presidente da ANDS, João Loureiro, o Diretor geral da ANNP Joaquim Sousa... são tantos... os clubes, os treinadores... Mas termino a destacar uma pessoa que tendo que resolver um problema grave, isto é o que aconteceu com o impedimento e necessidade de intervenção com uma obra de recuperação da piscina municipal de Paços de Ferreira, o vereador e agora presidente da câmara, Paulo Ferreira, foi absolutamente prestável no modo como nos ajudou a desbloquear a nossa situação. Não há palavras no agradecimento. Mesmo. Mas, já agora, nada disto seria possível, claro, sem o apoio do Presidente Miguel Arrobas e colegas de Direção e do Conselho Nacional de Arbitragem (destacando a Paula Cruz) que acreditam no projeto do polo aquático em Portugal. Para finalizar, e falando de números, só posso dizer que... com muito pouco... acredito que fizemos muito!
- ... e o futuro?
O futuro é já amanhã! Lançar as bases das competições regulares para a época 2025-2026 com as AT e clubes, apoiar os clubes nas competições internacionais e de torneios de formação, preparar as próximas ações das seleções nacionais que serão muitas, redesenhar as equipas técnicas estimulando o envolvimento de novos recursos, cumprir com os compromissos de realização de dois europeus Sub-20, feminino e masculino, no nosso país, planear a participação no Interfederações em Espanha, dinamizar novos projetos de polo aquático em regiões do país sem a modalidade, como a Madeira e Leiria. E, claro, fazer do Europeu Feminino no Funchal o mais emblemático evento da época desportiva de polo aquático. Neste caso, contamos com a longa experiência do Diretor de Eventos Internacionais da FPN, Avelino Silva, que coordenará a preparação do mesmo no terreno à imagem do que sucedeu com o Europeu absoluto de Natação Artística que foi um megassucesso! Na parte desportiva, a preparação está a iniciar-se e estou certo que será um êxito. Termino com uma nota. Uma referência para a equipa interna da FPN que, com a sua experiência, foram determinantes na realização do Europeu de Sub-18, em Rio Maior. Mesmo quando faltou a eletricidade... Top, top! Com eles no apoio, não temos receio de qualquer empreitada! ... E há sempre o Pedro Brandão para resolver alguma questão na montagem dos campos de competição ou de treino...!
