Em declarações à Agência LUSA, o presidente da Federação Portuguesa de Natação (FPN) Miguel  Arrobas explica a interrupção do programa de nadadores-residentes no Centro de Alto Rendimento de Rio Maior.

A FPN anunciou terça-feira que, «na relação com o CAR da Natação de Rio Maior, decidiu não dar continuidade, para já e apenas, ao projeto de formação da natação, com nadadores-residentes», com Miguel Arrobas a afirmar que «a decisão não se resumiu a uma questão financeira, mas sim a uma racionalização estratégica dos recursos da FPN».

Porque razão decidiram parar com o programa de residentes em Rio Maior?

A decisão de suspender o programa de residentes em Rio Maior foi tomada com base numa análise objetiva da evolução do projeto. Na última época, apenas 9 nadadores integravam este centro, dos quais 5 abandonaram antes do final. Esta quebra de adesão e de estabilidade desportiva contrastou com o crescimento do interesse que se está a verificar noutros polos, nomeadamente no CAR do Jamor.

A Federação optou por concentrar o investimento no Jamor e Coimbra, onde as condições técnicas e logísticas são mais robustas e o apoio institucional mais consolidado. O número de nadadores no Jamor irá duplicar já na próxima época, passando de 5 para 10 atletas, assim como aumentar significativamente em Coimbra. Ou seja, mesmo com a suspensão de Rio Maior, o número total de nadadores integrados em centros da FPN aumenta significativamente, o que representa uma aposta clara no reforço da estrutura de alto rendimento nacional.

Assim, esta decisão visa otimizar os recursos disponíveis, apostando em centros com maior estabilidade, atratividade e perspetivas claras de crescimento técnico e desportivo.

Foi uma questão de gestão financeira dos recursos da FPN?

A decisão não se resumiu a uma questão financeira, mas sim a uma racionalização estratégica dos recursos da FPN. Naturalmente, a gestão eficiente dos meios disponíveis é uma prioridade, mas o critério principal foi assegurar que os investimentos estão alinhados com centros que apresentem estabilidade, atratividade e perspetivas claras de crescimento desportivo. O objetivo é garantir que os atletas tenham acesso às melhores condições possíveis para a sua progressão no alto rendimento.

Mantém-se uma boa relação com a DESMOR? Europeus de polo são uma prova disso?

Sim, a relação entre a Federação Portuguesa de Natação e a DESMOR continua a ser muito positiva, assente numa cooperação institucional sólida e de longa data. A recente organização dos Campeonatos da Europa Sub-19 de Pólo Aquático Masculino, que decorrerá brevemente em Rio Maior, é um exemplo claro dessa parceria eficaz e da confiança mútua entre as duas entidades.

Para além dos grandes eventos, Rio Maior continuará a desempenhar um papel importante na preparação das seleções nacionais, especialmente ao nível dos estágios centralizados que temos vindo a realizar nas diferentes disciplinas da natação e pretendemos intensificar. As condições de alojamento, alimentação e treino integradas num só local tornam Rio Maior um espaço privilegiado para reunir atletas e equipas técnicas em ambiente de concentração total.

Estes estágios serão fundamentais para consolidar o trabalho técnico, mas também — e cada vez mais — para criar e fortalecer a identidade coletiva das seleções nacionais. Queremos fomentar um espírito de grupo, de pertença e de compromisso com a representação de Portugal ao mais alto nível. Rio Maior será o palco ideal para desenvolver essas dinâmicas e continuará a ser considerado nesse contexto estratégico.

Mesmo com a suspensão temporária do programa de residentes, Rio Maior mantém-se como uma infraestrutura de referência no plano da FPN, com um papel relevante na formação de atletas e na preparação de seleções, tanto ao nível competitivo como no reforço da cultura desportiva que pretendemos construir.

Há alguma solução para os nadadores que estavam no CAR de Rio Maior? Podem ser recolocados em outros CAR?

Sim, a Federação Portuguesa de Natação está a acompanhar individualmente cada nadador que integrava o programa de residentes em Rio Maior, que tenha condições de integração no CAR Jamor e CTAR de Coimbra, em articulação com os treinadores e respetivas famílias, para garantir a continuidade dos seus percursos desportivos de forma estável e sustentada.

Está já assegurada a integração de alguns desses nadadores no CAR do Jamor e no Centro de Treino de Alto Rendimento (CTAR) de Coimbra, permitindo que mantenham o seu plano de treino num contexto técnico adequado, com acompanhamento de qualidade e inserção numa dinâmica de grupo com ambição e objetivos claros.

Esta abordagem individualizada reflete o nosso compromisso com o talento nacional e com a construção de soluções duradouras e eficazes.

É possível no futuro voltar a existir este programa?

Sim, a reativação do programa de residentes em Rio Maior continua a ser uma possibilidade no futuro, desde que estejam reunidas condições claras e sustentáveis. Esta suspensão não representa um encerramento definitivo, mas sim uma pausa estratégica, enquanto não for possível garantir as condições mínimas necessárias à sua viabilidade e eficácia.

Para que o programa possa ser retomado, será fundamental que exista uma equiparação dos apoios institucionais ao nível do que é atualmente atribuído ao CAR Jamor pelo IPDJ. Só com um modelo de financiamento justo e equilibrado entre os diferentes Centros de Alto Rendimento será possível garantir condições homogéneas de trabalho, alojamento e acompanhamento aos atletas de alto rendimento.

Além disso, será também essencial assegurar:

– Um enquadramento técnico estável, qualificado e com visão de desenvolvimento a longo prazo;

– Condições logísticas e sociais adequadas, que garantam bem-estar, segurança e equilíbrio na vida académica, pessoal e desportiva dos atletas;

– Um compromisso mais forte da tutela e das entidades locais, que permita tornar o polo verdadeiramente atrativo e competitivo face aos restantes centros nacionais.

A Federação Portuguesa de Natação mantém-se disponível para esta reflexão estratégica e aberta ao diálogo com os parceiros envolvidos, com o objetivo de avaliar, em momento oportuno, a possibilidade de retomar este programa com as condições que os atletas e o alto rendimento exigem.