«Vamos aproveitar ao máximo o Europeu na Madeira!»

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Filipa Faria e Daniel Ascenso competem no European Aquatics Artistic Swimming Championships 2025, que decorre de 2 a 5 de junho no Funchal. O dueto misto de Portugal, que tem como suplente Maria Beatriz Gonçalves, está a ultimar os pormenores da coreografia a menos de um mês da competição nas Piscinas Olímpicas da Penteada, no Funchal.

O dueto da Gesloures realizou recentemente uma exibição na piscina de Santo António dos Cavaleiros onde com as treinadoras Chilua Pegado e Rita Varandas tiveram oportunidade de realizar alguns apontamentos finais.

Para o site da FPN revelaram o momento da preparação, fizeram um balanço do último Europeu, projetaram a participação no Funchal e anteciparam o futuro dos duetos misto a nível internacional.

Filipa Faria: Neste momento, em termos de preparação, estamos nos retoques finais com algumas pequenas alterações na coreografia que possam fazer mais sentido. A parte mais dura já está feita - o físico, para aguentar a coreografia, já passou.

Já estamos numa contagem decrescente até ao Europeu da Madeira…

Daniel Ascenso: Sim, começa a crescer um pouco o nervosismo [risos] de proximidade ao campeonato, mas dadas as circunstâncias, os treinos e tudo mais, estamos no bom caminho… como a Filipa disse, o pior já passou. A semana de carga máxima [treino] já terminou. Agora é continuar os apontamentos finais, algumas alterações, desde que façam efetivamente sentido, alguns erros que estejam por limpar e daqui para a frente é mentalizar que estamos próximos para chegar ao dia e darmos o nosso melhor.

A vossa participação no último Europeu [5.º lugar em Belgrado 2024] foi fantástica. Este vosso projeto do dueto misto tem ainda muito para dar...

Filipa: Eu acredito que sim. A experiência do ano passado foi muito boa, muito positiva. Como era a nossa primeira experiência, participamos também para perceber onde nos "encaixávamos", para desfrutar o momento. Foi tão positivo todo o ano passado que decidimos ficar na mesma linha com sensações positivas, tentar melhorar o máximo que conseguirmos, porque a concorrência vai aumentar, em ano pós-olímpico com o aparecimento de muitos duetos mistos. O que também é bom para nós, para nos ajudar a crescer. Estamos com a mesma mentalidade – desfrutar ao máximo, dar o nosso melhor e o que conseguirmos é óptimo para nós.

Daniel: Complementando aquilo que a Filipa disse, é a mudança de regulamento, é o ano pós-olímpico. É todo o crescimento dos duetos mistos com os homens na natação artística. Iremos tentar aproveitar ao máximo sempre como base o nosso desempenho no ano anterior. Não esquecer que este ano existiu uma mudança no regulamento e numa primeira análise, sem ser no sentido negativo, até acaba por trazer mais vantagens a nós e penso que estamos a conseguir adaptarmo-nos bem e a conseguir a conjugação entre as nossas capacidades e as requisitadas.

O vosso dueto tem uma grande margem de progressão…

Filipa: Sim. Estava a pensar que no ano passado tivemos muito menos tempo de preparação porque só começámos a treinar em março e o campeonato foi em junho. E este ano decidimos logo no início da época que iríamos continuar com o projeto e nesse aspeto sentimos mais química, é mais fácil nadar os dois.

No Europeu de Belgrado, vocês foram uma surpresa muito positiva…

Daniel: É isso mesmo, não esquecendo que do ponto de vista pessoal este é apenas o meu terceiro ano – tenho muita coisa para aprender, para melhorar. De qualquer ponto de vista que possamos falar – quer da apresentação, quer do ponto de vista mais técnico há muita margem de melhoria e estamos a realizar um bom trabalho para conseguir atingir os patamares de apresentações internacionais.

Uma pergunta feita por uma criança: Como é que comunicam na água?

Filipa: Principalmente, na parte das transições, quando alguma coisa está mal eu digo: não andes! Fazemos pequenas correções para ter melhor a perceção se estamos muito afastados ou muito perto conseguimos corrigir naturalmente esses pequenos pormenores.

Daniel: Nem que seja só contar um pouco mais alto, seja eu ou a Filipa, neste caso é mais a Filipa já que sou eu que me engano. Para retomar a contagem porque me perco ali entre os movimentos e a contagem. Tudo o que é necessário para ter uma boa apresentação.

Já da parte debaixo de água, só um grito, um barulho mais alto para dar aquele “clique” na cabeça para me aperceber que estou mal – tenho de fazer isto ou esqueci-me disto. Mas nós já temos ano e meio de cumplicidade… são coisas que também se vão construindo.

No início, coitada da Filipa [risos], andava a correr muito atrás de mim, porque sou grande, as minhas “remadas”, desloco-me sem me aperceber, mas são coisas que vamos corrigindo com o tempo, com a cumplicidade, com a química e com muita ajuda das nossas treinadoras.

Apesar de vocês terem um ar muito tranquilo em competição, há que ter o nervosismo muito controlado, uns nervos de aço…

Filipa: [riso] Sim. O ano passado, como era a primeira vez, principalmente para o Ascenso, na sua primeira experiência internacional…

Daniel: Temos de levar as coisas na maior. Por vezes fazemos uma tempestade num copo de água. Onde é só um copo de água.

Filipa: Aquela sensação de estarmos à beira de toda a gente, da elite, e sentimo-nos pequeninos, quando é a primeira vez, é um impacto muito grande. Ao longo dos dias do Europeu foi passando.

Daniel: O meu ponto alto de nervosismo foi mais no aquecimento. Chegar à piscina completamente nova, aquela gente toda que nós vemos na TV, no Instagram, eles a olhar para nós, mas depois com o tempo e com as ajudas… no dia da competição estava “zen”.

Filipa: Terminamos a competição muito contentes para acabar em grande e a partir daí foi desfrutar o resto do tempo – conhecer alguns dos atletas da comunidade do misto. Há uma entreajuda… é ligeiramente diferente, porque também a expectativa de novos atletas masculinos, há muita interligação, muito apoio.

Como está a ser recebida a competição mista na comunidade da natação artística?

Filipa: Bem! Desde o primeiro ano, quando soubemos da realização de dueto misto, toda a gente ficou feliz. Já fazia tempo de aquele momento acontecer. Principalmente porque havia grandes atletas que não tinham oportunidade de competir. Isso era uma tristeza. Em Portugal, desde que começaram a surgir atletas masculinos, entre clubes havia muita felicidade de ver pessoas a quererem competir. Isso fazia muito sentido para todos nós, queremos que venham mais pessoas, mais atletas e estamos sempre de braços abertos para receber quem quiser praticar.

Este novo ciclo olímpico vai ser o grande desenvolvimento dos duetos mistos…

Filipa: Espero bem que sim. Que comece a haver impacto significativo, para que no próximo já possam os mistos competirem nos Jogos de Brisbane 2032.

Daniel: Infelizmente ainda não conseguimos que o dueto misto faça parte do programa do calendário olímpico em Los Angeles 2028, mas, do que estamos a assistir a nível internacional, o desporto caminha numa boa direção para podermos ter mais representação masculina.

O Europeu no Funchal será um momento de afirmação da natação artística?

Um ano após os jogos olímpicos, o Europeu será sempre para ver que surge de novo, quem está em pausa, um novo ciclo, vamos perceber onde nos enquadramos com a nossa melhoria técnica, melhoria artística, tudo pode acontecer.

Daniel: Nós estamos a melhorar, mas temos consciência que lá fora também estão a melhorar.

Mudou muito a vossa coreografia?

Filipa: Completamente. Como o Daniel mencionou, o regulamento mudou e isso trouxe muitas coisas boas para nós a nível técnico e principalmente artístico. Ganhamos muito mais liberdade nas duas rotinas e isso vai-nos trazer imensas vantagens que nos permite “disfarçar” melhor algum ponto onde não podemos ser tão bons. Por outro lado, o Daniel está muito mais solto, desavergonhado [risos], a ganhar mais confiança na água e isso nota-se.

Daniel: Um exemplo que salta mais à vista é a minha flexibilidade. A qual não é o meu ponto forte. Temos trabalhado muito nessa área. Com este regulamento, como disse a Filipa, permite-nos “disfarçar” com outras características onde eu tenho melhor desempenho. Por exemplo: estes verticais, novos movimentos de pernas dão-me vantagem devido ao facto de eu ter uma boa flutuação, uma boa remada, aproveitando conhecimentos anteriores e a minha sensibilidade na água trazida da natação pura. 

Vamos aproveitar ao máximo o Europeu na Madeira!

Filipa: Vai ser bom nadar em casa!

(Brevemente, iremos abordar as outras seleções, ouvindo treinadoras e atletas)

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